Reportagem First Breath After Coma no Porto
Dia de festa para a editora leiriense Omnichord Records, que continua a celebrar o novo trabalho dos conterrâneos First Breath After Coma, desta vez no Hard Club. Com eles chegou também a colega de editora Surma, que sozinha em palco, misturava-se entre sintetizador, microfones, pedais e um baixo, numa aventura pop extremamente delicada e cristalina, pontilhado pela voz charmosa da Débora Umbelino.
Foi com ela que a noite começou e se o single Maasai já nos ter aberto o apetite, todo o concerto, provou que o charme e simpatia da música de Surma não enganam. É tudo tão delicado, mesmo quando tenta ser mais dançante e puxar um pouco pelo tempo, a sensação é que tudo é feito num suave e delicioso downtempo eletrónico, que tão bem se encaixa com a falsa timidez que sentimos na figura em palco. É apenas delicadeza, que apesar de não disfarçar ainda algumas fragilidades tanto nas músicas como nas suas transformações para palco, não esconde também o bom caminho que este projecto apresenta, nem o seu lado humano, intimista e de futuro muito risonho que parece ter.
Quem mostrou em palco que seriamente veio para ficar são os First Breath After Coma, que no seu segundo trabalho Drifter. Aparecem mais arrojados, mais ambiciosos e claramente mais adultos. A delicadeza que sentimos na apresentação do primeiro álbum, foi substituída por maior confiança em palco. Até a forma como trabalham a voz, que ao contrário da maior parte das bandas de Post-Rock não é anulada, mas sim elevada a um estatuto de bandeira e de elemento fulcral, evoluí na forma como se une com a melodia, deixou de parecer a parte atrapalhada e por conseguir. Hoje em dia os First Breath After Coma já dominam a palavra e o ritmo que ela propõe aos temas.
Os temas novos em nada ficaram a dever em termos de reacção do público aos temas já conhecidos. Alias o lado mais poderoso, centrado no instrumental, no lado mais dramático do novo material foi que mais alto ficou da memória deste concerto. Sempre que a banda decidia aumentar o volume, a potência o lado mais belo da banda demonstrava-se, exercia um maior sentido no público.
A única pena que o concerto deixa é que depois de uma sequência final tão bem conseguida, tão portentosa, onde a beleza das guitarras puxaram toda a tristeza e dor até ao catártico e nos deixaram de olhos fechados, regressaram para um encore, que mesmo tendo o single Escape lá inserido soube a curto e a pouco depois do que nos foi oferecido, era preferível terem acabado com as músicas que finalizaram a primeira parte do concerto. Fora isso um concerto cheio de intensidade, cheio de excelência, de perfeito controlo e de uma demostração de arte de criar belo através das camadas sonoras e da fórmula tão bonita de fazer os temas crescer e crescer até a utopia.
Há margem para crescer e isso é bonito, quase tão bonita como as músicas que estes jovens produzem. Um concerto que claramente mostrou que The Misadventures of Anthony Kivet não foram um acaso é que a sabedoria Post-Rock de saber transmitir sensações e emoções como nenhuma outra música, já foi domada pelo quinteto. Um grande segundo álbum vislumbra-se, mas para já é recordar nas nossas memórias esta grande apresentação e sorrir por temos contemplado ao vivo.
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sexta-feira, 22 novembro 2024