Reportagem Florence And The Machine em Lisboa
Depois de uma atuação vigorosamente aclamada no último Super Bock Super Rock, Florence Welch e a sua banda regressaram à MEO Arena para a apresentação de “How Big, How Blue, How Beautiful”. Com um alinhamento bastante próximo daquele apresentado na última passagem por Lisboa, esta foi mais uma noite que confirma o estatuto de Florence + the Machine como um dos projetos musicais que mais suavemente conseguiu fazer a transição entre fenómeno underground e o sucesso massificado.
Perpetuando o estereótipo britânico de uma qualquer pontualidade rígida, o espetáculo a que assistimos teve desde cedo uma energia quase sombria mas nunca demasiado séria: “What the water gave me” inicia o concerto de forma tensa e Florence surge com um vestido longo que em muito contribuí para que seja impossível não recordar Stevie Nicks. Desde o olhar, passando pela postura, gestos e movimentos, Florence Welch é uma clara herdeira da integrante dos Fleetwood Mac. Por entre dramatismos e poses de possessão, a artista que atualmente figura em palco num regime próximo de estrela de rock pouco se assemelha à que há seis anos conquistava a plateia da aula magna num misto de introversão e pulsão desenfreada.
Ainda assim, e como o propósito principal da noite recaia na apresentação do último álbum de originais da banda, torna-se pouco justo não destacar “Queen of Peace” e “How Big, How Blue, How Beautiful” como dois dos momentos mais fortes da noite. Se em disco essas são duas faixas que impressionam pela pertinência dos arranjos de metais de sopro, em palco o impacto é ainda mais significativo. E se até ao último álbum a guitarra elétrica era um elemento escasso na música de Florence + the Machine, o futuro adivinha-se diferente: “Mother”, em especial, revela-nos a versatilidade da escrita da artista inglesa, e em palco a sua energia não perde fulgor. Mesmo nos momentos mais apaziguados como “Sweet Nothing” ou “Long & Lost”, a partilha de emoções entre Florence e os fãs é incessante.
Felizmente, todo o fulgor sentido em palco e na plateia é justificado: para quem a popularidade não incomoda, não se torna especialmente complexo perceber que deter um repertório onde descendências da motown (“Delilah”) coexistem de perto com as guitarras rasgadas de “What kind of man” é, de facto, uma ocorrência rara.
A noite na MEO Arena dá a Florence razões de sobra para se orgulhar do trajeto que fez enquanto artista e enquanto performer que não perde a empatia apesar da teatralidade ocasional. Sentimo-la comover-se e cedemos aos seus pedidos para que festejássemos em conjunto. Poucos dos presentes serão os que se sentirão defraudados com o espetáculo apresentado – apesar do saudosismo de algumas canções cujo destaque já não prevalece – e se o último álbum de Florence + the Machine se centra no ultrapassar de obstáculos e períodos conturbados, pudemos com esta noite comprovar que se trata também de uma dança vitoriosa.
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sexta-feira, 22 novembro 2024