Reportagem Florence And The Machine
A Aula Magna enchia gradualmente quando, pelas 21 horas, os ingleses Sian Alice Group entraram em palco para a abertura do esgotadíssimo concerto de Florence and the Machine. Bem escolhida para a primeira parte, a banda revelou um som apelativo e cativante. A última música teve direito à participação de Florence e o seu tambor, para deleite dos fãs. Uma surpresa bem conseguida no culminar de uma actuação arrebatadora.
Uma hora mais tarde, a banda principal entrou em palco e a Aula Magna levantou-se dos seus lugares na íntegra. Florence and the Machine não são, de todo, banda para se ver sentado.
No seu blog, Florence Welch afirma querer que a sua música soe a algo como se nos atirássemos de uma árvore ou de um prédio; como se fôssemos sugados pelo oceano e não conseguíssemos respirar. «É algo esmagador e abrangedor que nos assoberba e ou nos faz explodir ou desaparecer», explica. A estreia lotada em Portugal confirma a importância de Florence and the Machine no cenário musical actual e o talento que transborda desta formação, quer pelos temas abordados de forma tão poética e ao mesmo tempo crespa nas letras de Florence, quer pela actuação em palco ou pelo som inebriante de todas e cada uma das músicas.
Em palco, uma harpa dava ares do seu encanto, colidindo com a força emanada pela bateria e pelo tambor de Florence. Mas a música criada por esta artista é mesmo isso: uma harmonia e um equilíbrio soberanamente alcançados entre intensidade e delicadeza. E Florence também o é: majestosa nas piruetas que dá, nos saltos por que percorre o palco, nas voltas de bailarina que executa, enquanto uma ventoinha estrategicamente colocada num dos lados do palco ajuda a alcançar o efeito dramático desejado. Ao mesmo tempo, a voz possante, a crueza das letras e a paixão com que se entrega a cada interpretação tornam esta artista numa espécie de figura bipolar que nos cativa e suga para o seu universo romântico e tumultuoso.
Howl foi o tema que abriu o espectáculo, protagonizado por uma Florence talvez um pouco envergonhada ainda a conter ligeiramente a voz. Depressa o público mudou tal atitude, ao cantar na perfeição a letra inteira de Kiss With a Fist, que se lhe seguiu. Mais à vontade e encantada com tamanha devoção por parte da audiência, Florence entoou Hurricane Drunk dando asas às cordas vocais, revelando por fim o aguardado caos domado que é a sua voz. Carinhosa com os fãs, abraçou e ofereceu uma das muitas flores que decoravam o seu tambor ao fã entusiasta que se encontrava no lugar mesmo em frente ao seu microfone, para euforia deste e da própria multidão, encantada com a ternura da cantora. Antes de Between Two Lungs, mais ligeira, My Boy Builds Coffins, também ela calma embora cujo tema se centre na morte, pôs o público a aplaudir as várias demonstrações de domínio dos agudos que Florence exibiu.
A artista, conquistada pelo entusiasmo que a audiência demonstrava cada vez mais, música após música, apelou a que todos aqueles sentados no anfiteatro da sala descessem até aos lugares mesmo em frente ao palco, provocando um tumulto. A disposição estava ”estranha”, queixou-se Florence. Reorganizados e bem mais à vontade, os fãs receberam o novo single, Hardest of Hearts com encanto, antes da potente Drumming Song – cantada pelos fãs encorajados por Florence –, que elevou as emoções na sala ao nível seguinte, necessário para receber os temas que estariam por vir.
Emocionada – o facto de este ser o último espectáculo da tour europeia contribuiu para isso –, a cantora revelou o seu apreço pelo carinho com que foi recebida nesta noite, rendida ao afecto que todos os presentes mostraram. Uma vez mais, o público português recebeu o elogio de “melhor audiência”.
Cosmic Love encheu a sala de magia, não fosse este um dos temas mais bem conseguidos do albúm. O fim de um amor e um coração despedaçado estão patentes na letra repleta de explosões emocionantes de tristeza, desorientação, desespero e devoção, descritas de forma tão crua que atingem a beleza. Blinding foi a música que lhe seguiu, cujo final frenético espalhou exaltação pelo público, antes de I’m Not Calling You a Liar, cuja letra estava bem estudada pela audiência.
Um par de “obrigada Lisboa” pronunciados por Florence levou o recinto à euforia, antes do que viria a ser o momento da noite. Dog Days Are Over, que fala sobre felicidade e de fugir dela, pode provocar sentimentos totalmente opostos em diferentes ouvintes, mas a vontade de dançar que provoca é comum. Foi o que se notou quando Florence, antes do clímax da música, pediu aos presentes que, a seu mando, saltassem sem parar ao som do refrão até ao final. E foi com esta explosão de êxtase que a banda saiu para o encore.
A esperada You’ve Got the Love retomou o espectáculo, cantada em conjunto com os espectadores que se apertavam entre si para o final, protagonizado por Rabbit Heart (Raise It Up). De braços no ar e a gritar “raise it up!” ao comando da cantora, o público português despediu-se da banda que trouxe uma das mais intensas actuações aos palcos portugueses nos últimos tempos.