Reportagem Foals em Lisboa
São poucas as bandas que conseguem manter a atenção de um determinado público ao longo dos anos, especialmente com reduzidas aparições. Apesar de não serem estranhos a terras lusas, os Foals foram bastante bem recebidos na passada terça-feira, quase preenchendo o Coliseu dos Recreios, num concerto não só cumpriu as expetativais gerais, como também foi uma amostra do interessante crescimento musical do conjunto inglês. Estes trouxeram à capital portuguesa Holy Fire (2013), um registo recente das suas ambições enquanto grupo, dando uma lição a muitos sobre o compromisso de explorar novos caminhos e apelar ao core de fãs simultaneamente.
Muito sentido fez terem sido os Everything Everything a abrir a noite, com o seu pop desenfreado, pintado de falsettos e ritmos demarcados e de influências fortes de prog e até funk – o que os torna um gosto algo adquirido. No entanto, o público da ilustre sala de concertos lisboeta não pareceu desgostar, sendo receptivo a temas como “Kemosabe” e “MY KZ, UR BF”. O recente Arc, deste ano é apenas o segundo esforço da banda, porém os Everything Everything já demonstram alguma solidez em termos de direção artística, tal como se apresentam capazes de orquestrar um set coeso e divertido. Aguenta-se, assim, a primeira parte desta noite.
Já com o recinto bem preenchido, os Foals apresentaram-se em palco um a um, durante “Prelude” e, a partir daí, ninguém os parou. O claro destaque do seu set foi para os temas de Holy Fire, como “Total Life Forever” e “Blue Blood”, no entanto, os Foals não esquecem temas como “Spanish Sahara”, que entusiasmou muito o público, e até “Olympic Airways”, do primeiro esforço dos britânicos. Se há algo que não se lhes pode apontar é a estagnação: aliás, muito pelo contrário, os Foals demonstram ao longo de três álbuns a sua ambição e crescimento musical como grupo. O dance punk continua muito presente nos seus temas, sempre regrados por batidas constantes e elementos de guitarra cortantes e intercalados, no entanto, em temas dos seus últimos dois álbuns, nota-se também a exploração de texturas e ambientes na sua sonoridade. A tradução destes para um ambiente ao vivo dá-se na perfeição, pontuado pela voz fina e em falsetto de Yannis Philippakis, que nesta nova sonoridade está como peixe na água.
Apesar da pouca interação verbal com o público, os Foals mantiveram a qualidade e a intensidade do set de forma bastante orgânica e não mecânica, com Philippakis dirigindo-se ao público com a sua guitarra durante inúmeras vezes, destacando-se “Red Socks Pugie”, aquando a histeria total do público. Apesar de sempre animado, o público lisboeta desperta nas duas músicas do encore e com razão, pois “Inhaler” é indubitavelmente o tema mais forte de Holy Fire, com um refrão fortíssimo em guitarras, numa explosão sonora e emotiva, e “Two Steps, Twice” expõe o núcleo de math rock que conquistou muita gente no seu primeiro trabalho, Antidotes, lançado em 2008.
Pouco mais há a apontar numa noite de boa qualidade - mais do que tudo, os Foals demonstram-se mais do que capazes de apresentar um concerto a vivo competente e poderoso. Ficaremos de olho aberto ao percurso da sua carreira e esperamos que voltem a Lisboa brevemente.
Texto: Teresa Silva
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014