Reportagem Gazelle Twin no Porto
Gazelle Twin, o projecto de Elizabeth Bernholz, visitou-nos esta semana para dois concertos, sendo que o Porto foi a primeira das cidades portuguesas a receber a artista britânica. Havia um forte sentimento de curiosidade em torno desta estreia, não só por “Unflesh”, o último álbum de originais de Gazelle Twin, ter sido considerado o melhor lançamento de 2014 pela conceituada The Quietus, mas também para ver como é que o ambiente perturbador e sufocante que caracteriza o mais recente trabalho – uma fascinante mistura de uma pop eletrónica de tons industriais – seria reproduzido em palco.
Felizmente, a magia não se perdeu e pudemos todos mergulhar no mar de escuridão que Elizabeth proporcionou à sua audiência, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, demos um pezinho de dança. Soa estranho, mas há uma forte dicotomia na música de Gazelle Twin: por mais angustiante que seja, tem um efeito catártico, pois sentimos que expulsamos os demónios interiores que nos atormentam. Ao vivo o clima de introspecção mantém-se, até porque o uniforme de Bernholz, com o hoodie azul, as meias brancas e a cara tapada, não impede que a mesma revele imenso de si, e cada actuação representa uma íntima viagem a uma alma sensível e que muito já sofreu, estando agora preparada para confrontar todos esses traumas. Contudo, o ritmo irresistível de algumas composições faz com que tenhamos uma enorme necessidade de mexer o corpo, o que contribuiu para que a atmosfera delicada também tenha tido um leve trago de diversão. Efectivamente, o único defeito do espectáculo foi a curta duração (nem a uma hora chegou), mas a verdade é que em nenhum momento a actuação perdeu interesse ou intensidade. Com um setlist baseado no amplamente elogiado “Unflesh”, ouvimos temas como “Guts”,“Belly of the Beast”, “I feel Blood”, “Still Life”, ou, no final, “Exorcise”. Dando por terminada esta bela sessão, Gazelle Twin volta a ser Elizabeth Bernholz e abandona o palco, saindo pelo meio do público.
Na primeira parte tivemos Atillla, projecto de Miguel Béco, em apresentação do primeiro longa-duração “V”. Ao som de uma eletrónica negra, experimental e minimalista, que tanto se aproxima do industrial como abraça o drone e até o techno, e com projecções a enfatizarem visualmente o ambiente sombrio que se vivia na sala, o concerto constituiu o aquecimento perfeito para o que se seguia.
-
quarta-feira, 06 maio 2015