Reportagem Girls em Lisboa
Os Girls passaram por Lisboa, na passada quinta-feira (29 de Novembro), actuando na sala de espectáculos Lux Frágil, com o intuito de apresentar o recém lançado Father, Son, Holy Ghost. Uma noite calma, recheada de boa música e um bom ambiente, na qual os portugueses embarcaram no rock divertido e auto-depreciativo qb dos norte-americanos, com uma dose de nostalgia incomparável. Cada vez crescendo mais como artistas, os Girls mostraram-se uns senhores na actuação ao vivo, beneficiando de um som impecável e da disposição e interesse dos seus espectadores.
Sem haver banda de abertura, algo que já começa a faltar nos concertos no Lux, os portugueses encheram a sala do Cais do Sodré e, por volta das 10:40, já esperavam os artistas. Ao entrarem, são cinco, distribuem-se por guitarras, baixo, teclas e bateria e o vocalista, Christopher Owens, tem um look positivamente bizarro: casaco de franjas à cowboy e cabelo loiro sobre os olhos, lembrando um Kurt Cobain, mas com uma voz do Jarvis Cocker. No entanto, nada é acessório, e gira tudo na e sobre a música. Começam, sem introduções, e "My Ma" é o tema escolhido, com o seu calmo rendilhado de guitarra e a expansão afectada da voz suave de Owens.
É, de facto, Father, Son, Holy Ghost que ocupa a maior parte da setlist, facto que não é de estranhar: é uma maturidade que se observa a todos os níveis, especialmente a nível de letras, onde Owens se diverte a pegar em clichês da música e a fazer deles temas verdadeiramente simples e até tocantes. Na verdade, os Girls giram o inesperado dentro do esperado: é em temas como "Die" onde a explosão sonora à la heavy rock espanta, com a bruta mestria do guitarrista John Anderson a dar ar de sua graça, tal como na erupção de guitarras em 'Vomit', apesar das múltiplas influências, que quase parecem copy-paste. É Pink Floyd em "Vomit", Beach Boys em "Honey Bunny", um pouco de Elliott Smith em "Alex" e por aí além. Porém, e não sabendo como o fazem, os Girls soam surpreendentemente modernos.
Se "Honey Bunny" causa algum distúrbio na multidão, é a conhecida "Lust for Life", de Album, que verdadeiramente a anima. Amigos abraçam-se e balançam-se ao ritmo da música, e predomina um ambiente verdadeiramente feel good – pode-se dizer que a banda de San Francisco teve missão cumprida. Depois da dose shoegaze de "Morning Light", seguiu-se o encore "Saying I Love You", "Darling" e a excelente "Forgiveness", que eclode no verdadeiro pico de interesse do concerto.
Uma amálgama de estilos, é verdade, mas é uma boa dose de talento e presença em palco que faz com que a fórmula Girls funcione – basta que sejam um pouco mais comunicativos na sua próxima estadia em Portugal.