Reportagem Godflesh + RA no Santiago Alquimista
Três anos após a passagem pelo Porto, Justin Broadrick volta a pegar na trouxa (neste caso, o baixista GC Green e a sua fiel máquina de ritmos) e traz novamente o seu brainchild preferido a Portugal. Desta feita, foi um Santiago Alquimista em tons de fim do mês que recebeu os refeitos Godflesh, depois do tubo de ensaio que foram os concertos consagrados aos álbuns Pure e Streetcleaner. Previsível?
“Love is a Dog From Hell” foi o tema de abertura, um dos quatro que não constaram do set de 2011. Outra das novidades foi também os problemas de som em palco que levaram Broadrick ao desespero de tapar várias vezes os ouvidos durante os harmónicos de “Like Rats”. Durante a cavalgada de “Christbait Rising”, um fã mais medicado não conteve a emoção e resolveu transpor os limites do palco para explicar ao seu mentor a razão de ter passado 15 minutos antes do concerto a bater palmas sozinho e estar ali àquela hora de camisa rasgada com as calças em baixo.
“Tiny Tears” fez lembrar os bons tempos dos Head of David. “Spite” pedala sempre bem ao vivo. A chinfrineira de guitarra em “Monotremata" e “Crush My Soul”, também resgatada de encores anteriores, foram os únicos momentos que se destacaram numa actuação que pareceu em tudo requentada.
Resgatar bandas do reino dos mortos não tem grande segredo. Basta pegar nos temas que queremos ouvir, mesmo que já caminhem todos para quarentões, e entregá-los de bandeja a saudosos e debutantes, de modo igual. De Broadrick, esperar-se-ia muito mais, fosse um álbum novo, uma ou outra recuperação mais recente, ou mesmo que nos visitasse noutro formato. De resto, o estatuto de “pai do industrial” que lhe atribuem não é em nada lisonjeiro para os conterrâneos Throbbing Gristle, nem para a máquina a vapor ou sequer para a fiadeira automática.
A primeira parte coube a RA, projecto de Ricardo Remédio (Löbo), um apropriado doom maquinal que mereceria outra escuta em ambiente mais insuspeito.
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sábado, 20 dezembro 2014