Reportagem Grizzly Bear - Porto
Foi a paulista Cibelle quem se encarregou de, na noite de 27 de Maio de 2010, fazer as honras de abertura do tão esperado concerto dos norte‐americanos, Grizzly Bear, num Coliseu do Porto às escuras.
Com “Las Vênus Resort Palace Hotel” – o seu mais recente registo de originais – na bagagem, a cantora radicada em Londres, simpática, comunicativa e muito bem‐disposta à boa maneira brasileira, demonstrou‐se munida do mesmo espírito que é transmitido na capa do seu terceiro disco – uma hippie chique, com o seu quê de glamour – segurando um copo de vinho do Porto, acompanhada de algumas histórias e muito amor. Cibelle Cavalli dá início à sua actuação intimista, onde predomina um ambiente quente. No palco, com a cantora, há um emaranhado de redes, plantas e luzinhas de Natal que trepam o microfone. Interpreta temas como The Gun and the Knife, Sad Piano ou a cover da famosa série televisiva Rua Sésamo It’s Not Easy Being Green. É de notar que Cibelle canta evocando o público para o cerne das suas canções: o amor. Para o encore, solicitado pelos aplausos do público, volta ao palco e brinda os presentes com Sapato Azul. Por fim, despede‐se, não sem antes responder a um piropo do público (“Você é bela!”), imitando a postura de Xuxa, no seu álbum “Xou da Xuxa”.
Entre muita conversa, brincadeiras e risos, o público pareceu gostar de Cibelle.
Os nova‐iorquinos Grizzly Bear deram, pela primeira vez em Portugal, o segundo concerto de apresentação do aclamado disco “Veckatimest”, de 2009.
Pouco faltava para as 23H quando o quarteto composto por Edward Droste (voz, guitarra, omnichord e teclado), Daniel Rossen (voz, guitarra e telcado), Chris Taylor (baixo, voz e outros instrumentos) e Christopher Bear (bateria e voz) entrou discretamente em palco.
Os mais atentos aplaudiam e assobiavam fervorosamente, conseguindo rapidamente contagiar a restante assistência, que recebeu a banda com muito alento. Num ambiente vestido de jogos de luz, os Grizzly Bear abrem o concerto ao som de Southern Point, tema de abertura de “Veckatimest”. Quase sem tempo respirar, avançam para Cheerleader, num estilo de coro que já estamos habituados a ouvir. Lullabye, do segundo do álbum de originais Yellow House, funde‐se com as sonoridades envolventes do tema anterior. Knife completa este conjunto de misturas de sons angelicais que nos remetem para o fundo do mar, sem que tenhamos medo de lá estar. Ainda tímidos, comunicam um pouco com o público, elogiando a cidade (“Porto és muito bom!”). Este, caloroso, permite‐lhes abrir caminho para Fine For Now. Apesar da postura mais contida e intimidada, diferente da de Cibelle, apresentam‐se como uma banda igualmente simpática e bem‐disposta. Droste tem uma voz encantadora, presente e segura, que nos envolve e transporta para submundos.
De surpresa, e já com alguma saudade, eis que surge Cibelle para acompanhar os ursinhos de Brooklyn em Two Weeks – single de estreia de “Veckatimest” e um dos temas mais esperados da noite. Droste e Cibelle puderam, neste tema, formar uma dupla de vozes surpreendente, onde a postura contida de Grizzly Bear é contrastada com o à vontade ingénuo de Cibelle, com uma troca de olhares envergonhada entre ambos. Tocam Colorado, do segundo disco e Deep In the Sea, da compilação em benefício da Red Hot Organization Dark Was the Night.
O tema Ready, Able faz explodir de emoções todo o Coliseu do Porto, e lá estamos nós a vaguear pelas florestas desconhecidas do vídeoclip. Lâmpadas colocadas dentro de frascos ligam‐se e desligam‐se num ritmo intermitente, acompanhando os compassos da bateria. Toda a iluminação no palco vai progredindo, conforme a proporcional progressão da densidade das músicas. Já com a prestação de Grizzly Bear a aproximar‐se do final, ouve‐se I Live With You, que nos faz lembrar uns Arcade Fire de “Funeral”, seguida de While You Wait for the Others. É depois de On a Neck, On a Spit que os Grizzly Bear abandonam o palco. O público nortenho aplaudiu, assobiou e bateu com os pés no chão da histórica sala de espectáculos, não se cansando até conseguir trazer os rapazes de volta. Gentilmente e muito agradecidos, tocam não um, mas dois encores, com os temas All We Ask e Foreground, dando assim por terminada uma boa sessão de quase hora e meia.
Confirmou‐se nesta noite que os Grizzly Bear não são apenas uma sensação do momento, mas antes uma promessa de qualidade da música indie. Miúdos e graúdos assistiram a um espectáculo que, sem sombra de dúvida, ficará para recordar.
Para quem não assistiu para o poder recordar, há ainda a oportunidade de o fazer no primeiro dia do Super Bock Super Rock.