Reportagem Guano Apes no Coliseu do Porto
Com Bel Air na bagagem a deixar menos espaço para o passado, os Guano Apes juntaram-se ao Coliseu do Porto para uma noite de cariz extraordinário, com honras de fecho de digressão. Uma circunstância que acabou por revelar-se feliz, após a interrupção forçada da tourné em Outubro de 2011, ou não fosse Portugal o lugar mais indicado para o efeito, dada a relação especial que a banda tem vindo a manter com o público, desde a primeira visita ao nosso país. Facto confirmado repetidamente pelas palavras do guitarrista Henning Rümenapp e pelo imenso fervor do público que, apesar da afluência moderada, soube mostrar-se à altura!
Os primeiros acordes de “Quietly”, ao arranque, bastaram para que os botões da devoção fossem acionados e os braços se elevassem para receberem Sandra Nasić e companheiros.
Seguiu-se “Oh What a Night”, de Bel Air, o mais recente registo de originais que põe cobro a uma pausa de oito anos longe do estúdio, para depois retomar-se Walking on a Thin Line, com“You Can't Stop Me”. “Open Your Eyes” chegou-nos como um exercício de memória, com os corpos e as gargantas a regressarem aos primórdios da adolescência, coincidentes com o início da carreira dos Guano Apes. “Vocês ainda sabem a letra!”, elogiou a vocalista, que entregou o refrão ao público.
A nova orientação menos agressiva e mais dançável foi atestada por “Sunday Lover”, a deixar adivinhar que o domínio da atuação ia recair sobre o novo álbum, o que se veio a confirmar. De toalha pousada nas costas, na mesma pose descontraída e arrapagada de costume, Nasić quis saber quem conhecia o último álbum. As parcas confirmações serviram de pretexto ao passeio por Bel Air, com pequenos desvios levados a cabo por “Pretty in Scarlet” e “Underwear”.
Contrariamente ao que a reposta anterior deixara antever, o público mostrou-se conhecedor das novidades, como por exemplo em “Fire in Your Eyes” e “Fanman”. E se “She's a Killer” é detentora de uma linha de baixo forte, que deixou em evidência o trabalho do baixista Stefan Ude, em “Tiger” o destaque foi para a prestação do baterista Dennis Poschwatta, responsável pela abertura da canção e pela marcação dos movimentos da vocalista. O fim da primeira parte anunciou-se com “This Time”, a ressalvar que apesar terem sido os temas mais antigos a suscitar as mostras de maior contentamento por parte da plateia, o entusiasmo foi uma constante, muito em parte por culpa da postura de Sandra Nasić, sempre a puxar pelo público.
O encore estreou-se com uma versão instrumental de “Plastic Mouth”, ainda sem a presença da vocalista em palco, que regressou acompanhada por um frasco de mel, alegadamente português, para atenuar problemas vocais. “Staring at the Sun”, apenas disponível na edição em vinil de Bel Air, antecedeu “Big in Japan”, conhecida revisitação do êxito dos conterrâneos Alphaville, e ao delírio colectivo. Nasić brinca que até deslocou um ombro, mas como quem corre por gosto não cansa, o caminho fez-se no mesmo tom, de volta à crueza de Proud Like a God, capítulo primeiro da discografia do quartateto alemão, que se fez acompanhar por mais um guitarrista no reforço. Vestidos a preceito com artefactos comprados numa loja lisboeta, para brincar ao Carnaval e assinalar de forma ainda mais especial o término da digressão, os Guano Apes despediram-se com “Lords of the Boards”, embora tenham deixado no ar a hipótese de um regresso para o verão.
Uma novidade que por certo terá agradado aos presentes no Coliseu do Porto, sobretudo a todos os saudosistas que lamentaram que o alinhamento não tivesse privilegiado uns quantos êxitos mais antiguinhos que ficaram por tocar.
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sábado, 20 dezembro 2014