Reportagem Guardian Alien no Porto
Os nova-iorquinos Guardian Alien, liderados por Greg Fox, são um dos nomes mais interessantes no actual universo da música experimental. Mestres da improvisação, criam ousadas viagens sonoras de cariz psicadélico, rejeitando estruturas convencionais e preferindo composições abstractas mas cuidadosamente elaboradas. Por outras palavras, no meio do caos sonoro há um método, uma fórmula que junta todas as peças de um complexo puzzle musical. Essa escolha artística é, aliás, o que os torna tão admirados no meio underground.
No entanto, a actuação no Porto ficou aquém das expectativas. Apesar do local (Maus Hábitos) ter um carácter intimista que se revela ideal para este tipo de concertos, o som estava pouco perceptível, com a bateria de Greg Fox a sobrepor-se às vozes e maquinaria. Pode parecer pedante afirmar que o espectáculo perdeu qualidade devido a problemas técnicos, mas os Guardian Alien fazem parte de um leque de bandas que necessitam de um som cristalino para que todos os pormenores da sua música sejam devidamente apreciados. Infelizmente, aqueles pequenos detalhes, como o tom suave, misterioso e hipnótico da voz de Alex Drewchin passaram despercebidos; na verdade, a certa altura, quase que nem a ouvíamos.
Todavia, nem tudo foi mau, pois assistir à performance de Greg Fox é uma honra para qualquer melómano. Mais do que um bom baterista, o homem domina o seu instrumento com uma destreza absolutamente arrepiante. Ora mais serena, ora mais frenética, a percussão do ex-baterista dos Liturgy assume-se como a alma e fio condutor dos Guardian Alien.
No final, o balanço não é assim tão negativo. Sim, a noite não foi perfeita e esperemos que o regresso à Invicta (fingers crossed!) corra melhor. No entanto, para além da já referida habilidade de Greg Fox, a atitude profissional da banda foi extremamente louvável, além de que a organização também merece respeito: num país com as costas viradas para a cultura, há que agradecer a quem se esforça por dinamizar a cidade de forma criativa.
Para finalizar, destaque para a primeira parte do evento, protagonizada por três músicos da cena nacional: André Simão (La La La Ressonance/Dear Telephone) e VT (Equations) – duo que já actuou no Centro Cultural Vila Flor em Guimarães – juntaram-se a Filipe Azevedo (Sensible Soccers) para uma agradável sessão de improvisação, na sua primeira apresentação como trio.
-
sábado, 20 dezembro 2014