Reportagem Hugh Laurie em Lisboa
Um concerto excelente dado a um público entusiasta e de braços abertos.
Espera-se um novo concerto de Hugh Laurie em Portugal, porque este foi verdadeiramente óptimo.
Podemos conhecê-lo por outras razões, mas na passada terça-feira o britânico Hugh Laurie deslocou-se a Lisboa para apresentar o seu novo projeto musical, com os Copper Bottom Band. É uma banda blues do ator que é bem conhecido por papéis em Dr. House, Blackadder e pela dupla de comédia com Stephen Fry, mas esqueçamos que a transição do grande ecrã para a música é quase sempre pouco sucedida. A grande presença em palco de Hugh Laurie e a perícia técnica da banda de suporte fizeram com que o primeiro concerto em Portugal tenha sido um grande sucesso, tendo estes enchido praticamente o Coliseu dos Recreios.
O concerto começa pouco depois das 21 horas, entra Hugh Laurie no recinto, acompanhado pelos Copper Bottom Band. Num cenário familiar, com tapetes e candeeiros, brinda ao público com whiskey, pergunta se "alguém na sala percebe inglês" e faz um gesto afectado de alívio quando recebe a pergunta. Algo a retirar de início é que Hugh Laurie vai ter sempre a comédia a correr no sangue e este concerto não escapou a um constante desenrolar de piadas auto-flagelantes e sarcásticas – e digamos que até ganhou com isso. Laurie é extremamente divertido e tem uma presença fantástica em palco, e apesar de não ter uma grande voz desenrasca-se bem com o seu charme de crooner, em evidência em temas como "Careless Love" (de Lonnie Johnson) e "Louisiana Blues" (de Muddy Waters) apoiado por músicos excelentes, que vivem e sentem o verdadeiro espírito de blues.
Para além de dar a voz a temas antigos de blues e country, Laurie dedica-se também ao piano e à guitarra. Este explica que aprendeu piano sozinho após desapaixonar-se com as aulas com a sua professora, tudo impulsionado por uma canção de blues. Em "Let The Good Times Roll", dedica-se tanto ao piano como a dançar no palco, fazendo lembrar uma cena do filme The Blues Brothers, tal como em "Yeh! Yeh!", que deixa o público ao rubro. Momento de destaque para "John Henry", onde a 'Sister' Jean o acompanha na voz e tem uma rendição absolutamente incrível. Laurie escolhe bem a companhia, apesar de todos saberem o que fazem.
São, de facto, as pequenas explicações sobre os temas que fazem com que a relação artista – público se intensifique e que as próprias canções ganhem maior significado para os lisboetas, alguns até que, entre os inúmeros que se deslocaram ao Coliseu com curiosidade para ver o que o Dr. House tinha na manga, demonstraram conhecer muitos dos temas que Laurie apresentou. É um historial de artistas como Jimmy Rogers, Ray Charles, Professor Longhair, entre outros, que demonstram a paixam de Hugh Laurie pelos blues e isso passa definitivamente para o outro lado do palco.
Um curto encore e Laurie e companhia passam para "Changes" e "Tanquaray", versão do tema de Dr. Feelgood.
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sábado, 20 dezembro 2014