Reportagem Ian McCulloch em Lisboa
“Há quanto tempo eu não vinha cá? 24 anos? Eu devia ter vergonha”. Esta foi apenas uma das várias preciosidades saídas da boca de Ian McCulloch no concerto desta fria quinta-feira de Outono.
O concerto do vocalista dos The Echo & the Bunnymen decorreu no Grande Auditório do CCB, no âmbito do MistyFest e, ainda que a sala não estivesse cheia, o cantor encontrou um público à sua altura.
Passavam apenas alguns minutos da hora marcada quando McCulloch entra de rompante pelo palco. Nesta visita a Lisboa, o músico faz-se apenas acompanhar do guitarrista Gordy Goudie – que também faz parte da formação actual dos Bunnymen -, e da sua guitarra acústica, apresentando um repertório do seu trabalho a solo e da sua banda num formato muito mais despido.
“Candleland” e “Proud to Fall”, do primeiro álbum a solo, abriram as hostilidades, mas foi com “Rescue”, terceiro tema da noite retirado do trabalho dos Bunnymen, que a audiência despertou e realmente aplaudiu com gosto.
E isso foi algo que foi ficando patente ao longo do espetáculo, com as recepções mais calorosas a irem direitinhas para temas dos Bunnymen, como “Bring on the Dancing Horses” ou “Seven Seas”. No entanto, algo que também ficou à mostra de todos foi a descontracção e humor de McCulloch ao longo de todo o espetáculo.
Embora a sua voz esteja algo gasta e envelhecida – os 54 anos já pesam – o inglês soube conduzir com mestria o concerto e conseguiu lidar facilmente com o público. Além de elogios ao nosso vinho – foram vários os copos trazidos pelos assistentes -, o cantor ensinou aos portugueses como deviam bater palmas, fez várias questões como “Beatles ou Stones? Doors ou Velvet Underground?”, alegou ter escrito a melhor canção de sempre – “The Killing Moon”, que acabaria por tocar -, e ainda prometeu voltar a palcos nacionais em 2014 com os seus Bunnymen – eles que estiveram este ano em Paredes de Coura – para apresentar o seu novo álbum que, ao que tudo indica, será uma “obra-prima”.
O sotaque cerrado e a voz algo embargada nem sempre nos permitiu perceber tudo o que McCulloch dizia ou desabafava. Mas foi neste ambiente entre amigos que o concerto continuou.
Ouvimos “Pro Patria Mori”, do homónimo álbum a solo,"Villiers Terrace” – excelente ao vivo -, “Rust”, “Zimbo” e até uma homenagem a Lou Reed com uma versão de “Waiting for My Man”.
E foi assim, em velocidade cruzeiro, que acabaríamos por chegar ao encore onde, mais uma vez, recordámos o malogrado Lou Reed com “Take a Walk on the Wild Side”, num concerto que teria o seu término com a conhecidíssima “Lips Like Sugar”.
Entre êxitos dos Echo & The Bunnymen e temas do trabalho a solo do inglês, o CCB teve uma belíssima noite dedicada ao que de melhor nos trouxeram os anos 80. Foi uma noite fria de Outono, mas Ian McCulloch conseguiu aquecer os nossos corações.
-
sábado, 20 dezembro 2014