Reportagem Idles no Porto
Segunda-feira, 26 de novembro e a sala de espetáculos do Hard Club na cidade do Porto enchia para um serão dedicado àqueles que fazem por manter vivo, e bem saudável, o punk rock inglês, pela organização da Everything Is New. Uma noite que prometia de antecedência ser memorável, pois já se tem vindo a conhecer o calibre da banda britânica que subiria àquele palco, e da dupla que trouxeram para o aquecimento.
Quando se começou a ouvir música a preencher o espaço, quem ia entrando sem conhecer não imaginava encontrar apenas dois artistas em cima do palco. A dupla JOHN, oscilante num ambiente de rock alternativo, contava com um John vibrante agarrado à sua guitarra e outro John audaz na bateria e intenso na voz.
O aquecimento de abertura do duo de Crystal Palace convenceu toda a gente de que valera mais que a pena dispensar uma noite de segunda-feira de outono para prestar atenção a quem se fazia ouvir. O ritmo estava já a ser bem marcado, até os dedos do homem que manejava firmemente as baquetas sangrarem, não sendo, como mostrou óbvio, motivo para parar de tocar. Quem olhava de baixo para o palco passou a ter a certeza de que não haveriam corpos parados até se deixarem de ouvir soar instrumentos.
IDLES iriam tomar o palco depois de tudo devidamente montado e afinado, mas que eles viriam para desmontar e desafinar. O motivo que os tens levado a várias cidades europeias, e que os trouxe ao Porto e a Lisboa, é “Joy As A Act Of Resistance”, o álbum lançado no presente ano de 2018 e que tem vindo a acumular pelo caminho críticas bastante generosas. Assim, depois de terem tremido o Parque da Cidade do Porto numa tarde de NOS Primavera Sound, os ingleses voltaram ao nosso país com um ainda maior entusiasmo a rodeá-los.
A sala já estava consideravelmente cheia, a setlist já tinha sido colada ao palco nas posições onde se iriam dispor os membros da banda originária de Bristol, e havia quem se colocasse nas filas da frente mas evitasse olhar para ler os nomes das canções que iriam ser tocadas. Mas quem leu aprendeu que a curiosidade não compensou, porque os cinco músicos acabariam por surpreender em qualquer das canções que estivessem programadas, e ainda mais.
O aquecimento já estava dado, por isso, após terem sido recebidos com um aplauso daqueles que não se ouvem muitas vezes, já estavam a colocar a plateia aos saltos na primeira música que interpretaram. Plateia essa que se mostrou bem conhecedora, tanto das letras como dos maneirismos do punk. E uma coisa estava certa: IDLES sabem interagir com o público de uma forma rara, cativante e refrescante.
Das expressões intensas de Joe Talbot, a voz da banda, à ousadia de Mark Bowen, que para além de ter sido o último a apresentar-se, sem quaisquer receios, também ia largando a guitarra aqui e ali para outras intervenções, o espetáculo foi-se moldando livremente, conduzido pelas mãos do talentoso homem da bateria, Jon Beavis, que como anunciaram com todo o orgulho, mereceu a prata na lista dos melhores bateristas de rock da atualidade do site MusicRadar, ficando apenas atrás de Roger Taylor, membro dos Queen, que aos 69 anos já não necessita de apresentações. O Porto foi a melhor plateia que já os recebeu, pelo menos o vocalista fez toda a gente acreditar durante cerca de duas horas, ao repeti-lo quatro vezes no microfone.
Tanto as faixas do seu último álbum como as de “Brutalism” foram entoadas entre encontrões pelo público, e o estilo interventivo inspirou toda a gente que as ouviu. Assumiram-se feministas com “Mother” e dedicaram “Danny Nedelko” a todos os imigrantes, cantaram uma canção de amor aos presentes com “Love Song” e abriram o espírito natalício com uma breve e já acostumada interpretação de “All I Want For Christmas” de Mariah Carey, tendo praticamente todas as outras faixas sido reveladas também com uma inspiração ou dedicatória marcantes.
Entre hinos e emoções, havia espaço para interações do palco para os recetores. O já falado Mark Bowen percorreu a sala, de microfone em punho e a gritar pela atenção de todos, e, mais à frente, enquanto Joe Talbot ordenava que todas as pessoas se agachassem, com o outro guitarrista, Lee Kiernan, no meio da sala, criou-se a oportunidade para chamarem fãs femininas para cima do palco para segurarem os instrumentos e fingirem a continuação do concerto, tirando uma gargalhada da plateia, que naquele momento se encontrava distraída pelo músico junto no centro da sala, de joelhos fletidos. O vocalista da banda referiu de seguida que nas outras cidades europeias chamaram homens para o palco, mas que acabavam sempre por optar pela destruição.
Esta segunda vez dos ingleses na cidade do Porto em 2018 não foi menos enérgica. Com uma presença forte, em que Joe Talbot fez relembrar o homem da voz dos Queen, meramente pelas imitações cómicas que foi tentando, os IDLES comprovaram, num concerto único, que as críticas que têm vindo a acumular são mais que merecidas e mais que bem colocadas. Uma banda que traz consigo uma mensagem importante para o mundo atual, que apela incansavelmente ao amor e à união e aceitação de todos, e que não parou, mesmo após o vocalista ter dito que eles não trazem encores e abandonado o palco. Ainda anunciaram que para o ano regressarão ao Porto. Este quinteto é enorme e vai crescer ainda mais.
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Organização:Everything is New
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segunda-feira, 03 dezembro 2018