Reportagem Interpol - Lisboa
Mais uma noite de concertos em Lisboa, desta vez cabendo aos Interpol, um dos maiores nomes do novo rock dos anos 00, agitar os fãs num Campo Pequeno que envolveu, apesar de alguns problemas técnicos. A sala de espectáculos esteve quase cheia para aplaudir os sérios senhores e habilidosos criadores das mais simples melodias e belas atmosferas, ao longo de um pouco menos de uma hora e meia.
Antes da esperada actuação, coube aos Surfer Blood agitar a hoste com o seu surf rock animado e descontraído. Constituídos por cinco membros, os americanos são claros admiradores do poder da guitarra, sempre de forma leve mas com a devida complexidade, o que os torna interessantes de ouvir apesar do carimbo de algumas influências maiores, como Weezer e Pavement. Dos temas de Astro Coast, poucos são os que realmente arrancam uma demonstração expansiva de adoração do público (‘Swim’ ou ‘Floating Vibes’ sendo dois dos exemplos), mas, no geral, a banda da ‘festa na praia’ conseguiu incitar um leve entusiasmo, marcado pelos saltos, as palmas e o air drumming desajeitado.
Apesar de alguns distúrbios na plateia, que foram prontamente atendidos pela equipa de segurança do Campo Pequeno, o ambiente numa plateia mais madura era de saudável ansiedade, discutindo-se algumas das possíveis opções para a setlist do concerto a seguir-se. No entanto, basta uma entrada quase despercebida dos americanos para pôr toda a conversa de lado – e é em ‘Success’, tema de abertura do novo álbum, que os Interpol começam a jornada pelas paisagens frias e melancólicas características do grupo e que transcendem a sonoridade etiquetada do post-punk.
Ora, os nova-iorquinos vieram, pela terceira vez a Portugal, apresentar o seu novo álbum, homónimo, lançado na segunda metade deste ano, pela editora Matador, e que marca quase um ‘regresso às origens’, depois de uma tentativa um pouco mainstream que se deu em Our Love To Admire (2007). Se este novo esforço pouco acrescenta à qualidade musical da banda, ao vivo demonstra o maior brio e perfecionismo técnico dos americanos, que, apesar das condições desfavoráveis de som que normalmente se associam a esta sala de espectáculos, se mostram cada vez mais presentes. Não obstante da notável ausência do carismático Carlos D, antigo baixista e agora substituído pelo experiente David Pajo, Paul Banks entoa as suas letras sedutores e enigmáticas de maneira competente e idónea, enquanto que os pilares da guitarra e da bateria de Daniel Kessler e Sam Fogarino, respectivamente, marcam o ritmo de forma precisa e seca.
A agitada ‘Say Hello To The Angels’ e as emotiva ‘Narc’ e ‘Length of Love’ roubam algum protagonismo aos novos temas, como ‘Lights’ ou ‘Barricade’, e é nestes que o público parece demonstrar um maior entusiasmo. Já o front man Paul Banks, sob o qual cai, naturalmente, a luz dos holofotes, parece claramente satisfeito com a recepção dos portugueses: ‘Sempre que cá vimos é muito especial, obrigado!’. Tal recepção é de esperar na sequência de ‘Slow Hands’ e ‘C’mere’, que leva o público a um intenso rubro, tal como na belíssima ‘Take You on a Cruise’.
Sóbrios, sombrios e competentes, os nova-iorquinos passam rapidamente e quase sem pausas por um set coeso, apesar de este ter algumas escolhas que fogem ao alinhamento normal. ‘Hands Away’ antes do encore mostra-se uma escolha estranha, e ainda mais estranha é a ausência de ‘Evil’, um dos claros hits de Antics, lançado em 2004. No entanto, já na fôlego final, há a popular ‘Obstacle 1’ e a muito pedida ‘Stella Was a Diver And She Was Always Down’, logo, os dedicados fãs do grupo musical podem, assim, considerar-se satisfeitos.
Despedem-se os músicos e dispersam os devotos, ficando a impressão de que, depois de mais de uma década da sua formação.
Os Interpol continuam a dar cartas e a cimentar o seu lugar como uma das mais notórias e preponderantes bandas dos anos 00.