Reportagem Jack White em Lisboa
Sem dúvida que os temas pré-“Jack White a solo” eram os favoritos, mas toda a gente soube apreciar o concerto no seu todo.
Foi nos dias imediatamente a seguir ao Optimus Alive!’12 que se soube da notícia da vinda de Jack White a Portugal. Na verdade, era um regresso, desta vez a solo. Da última (que foi também a primeira) vez que cá esteve, foi ainda no tempo dos White Stripes. E foi precisamente nesse mesmo festival que se deu o acontecimento. Para quem esteve no concerto dessa que foi uma das maiores bandas de sempre, o concerto de Jack White a solo era imperdível. Para alguns, porque havia esperança de ouvir alguns clássicos dos White Stripes; para outros, porque é mais que sabido que um concerto em que Jack White participe será, sem dúvida, um concerto memorável.
Foi o último dia de Agosto, e também o dia da “lua azul”, o escolhido para a estreia do projecto a solo do norte-americano. O calor era mais que muito, sobretudo dentro do Coliseu. A multidão ia chegando e enchia o recinto, à medida que a hora chegava.
Para fazer a primeira parte, foram convidados os portugueses The Poppers. Vinham com a missão de aquecer o público e conseguiram mais que isso. A entrega era palpável; a diversão com que o faziam ainda mais. Foram temas como “Mrs A”ou “Drynamill” (a que os «tornou milionários») que animaram e convenceram o público e que puseram grande parte dele a saltar. Houve ainda tempo de proporcionar 15 minutos de fama a um membro do público. Jimmy, um rapaz que prontamente respondeu à pergunta do vocalista «alguém daqui sabe tocar guitarra?», subiu ao palco e mostrou o que valia. Improvisou e acompanhou o outro guitarrista de forma louvável, comportou-se como um verdadeiro artista em palco. Stage fright? Nem por isso.
Jack White entrou em palco alguns minutos depois das 22h. Antes disso, foi feito um pedido por um membro da equipa: «pedimos-vos que vejam e apreciem o concerto em 3D e que pousem os vossos telemóveis e máquinas. Temos alguém ao nosso dispor para tirar as fotos necessárias». Não que tivesse sido depois cumprido por todos; afinal de contas para algumas pessoas é melhor um vídeo com o som horrível ou fotos de péssima qualidade do que nenhuma recordação…
A multidão fez-se ouvir nas boas-vindas ao músico e à sua banda, que entraram em palco ao som de “I’m Shakin’”. Mas foi precisamente um tema de White Stripes que iniciou o espectáculo. “Dead Leaves and the Dirty Ground” fez as delícias dos fãs. Todos saltavam e cantavam a letra sem falhas. Estava prometido um concerto de Jack White com passagem por temas dos White Stripes. Que mais podiam pedir? Bom, talvez temas das outras bandas do norte-americano: Dead Weather e The Raconteurs. Desejo concedido.
Logo no início, ouviram-se temas de Jack White a solo, tal como “Sixteen Saltines” (o single, logo, uma das favoritas), “Missing Pieces” e “Love Interruption”, intercaladas com “Hotel Yorba” (dos White Stripes), “Top Yourself” (dos The Raconteurs) e ainda “Cut Like a Buffalo” (dos Dead Weather). Sem dúvida que os temas pré-“Jack White a solo” eram os favoritos, mas toda a gente soube apreciar o concerto no seu todo.
No entanto, por melhor que estivessem a ser as músicas, não podemos deixar de lamentar o setup do som. A guitarra ouvia-se perfeitamente, bem demais até, mas, tirando o piano e a bateria, os outros instrumentos perdiam-se um bocado naquela amálgama. Só numa das músicas do final do concerto, durante uma parte em que a guitarra obteve algum descanso, é que finalmente se conseguiu ouvir o violino.Questões técnicas à parte, o concerto prosseguiu sem problemas. Perdeu um pouco da energia do início lá para o meio, mas “We’re Going to be Friends” dos White Stripes, “Two Against One” de Danger Mouse, “Same Boy You’ve Always Known” e “The Hardest Button to Button”, estas três também dos White Stripes, trataram de retomar a pujança que se tinha sentido a princípio. Seguiu-se o encore, durante o qual o público entoou, obviamente, “Seven Nation Army”. Como alguém me apontou – e bem –, é incrível como esta música (que se ouve em quase todos os encores de concertos) conseguiu não ser entoada em harmonia no único concerto em que fazia sentido ser cantada…
No regresso ao palco, ouviu-se “Steady as She Goes”, outra favoritas, mas dos The Raconteurs”. “Freedom at 21”, o mais recente single do projecto a solo, e “Hypocritical Kiss” seguiram-lhe e foram cantadas por muitos, mais uma vez. Para o fim estavam guardados temas dos Dead Weather e dos White Stripes. “Blue Blood Blues” antecipou o final em grande com “Seven Nation Army”. Por mais que esta música seja um ícone e um hino dos tempos modernos, talvez não fosse necessário tocá-la no concerto a solo de Jack White, mas já que se ouviram outros temas da banda, porque não ouvir este também (que afinal de contas acaba por ser o que os tornou uma banda das dimensões que foi)? Há quem prefira o tema quando tocado apenas por Jack e Meg. Tal como foi no primeiro Optimus Alive!, em 2007. Porque esse sim, foi um dos concertos de uma vida.
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sábado, 20 dezembro 2014