Reportagem Joan Baez no Porto
Casa cheia para assistir ao regresso de Joan Baez a Portugal, numa noite onde a artista proporcionou a todos os presentes um agradável ambiente intimista ao som de boa música.
Baez, hoje com 74 anos, pode ser relembrada de várias formas: lenda viva da folk norte-americana, ex-companheira de Bob Dylan (com o qual criou uma lendária parceria) ou Steve Jobs, e influente activista politica. No entanto, olhando para a faixa etária de grande parte do público, percebemos que a senhora é também a banda sonora de várias gerações, o que fez com que o espectáculo adquirisse um forte sentimento nostálgico. Contudo, o passar dos anos também deixa marcas, e uma delas encontra-se na voz de Joan – menos aguda e mais “ madura”. Ainda assim, a cantora continua a ter um registo belo e possante, mantendo igualmente as suas convicções políticas e sociais inalteradas.
Outro aspecto que sobressai é a empatia que cria com a audiência; a interpretação de
“Grândola, Vila Morena” a meio da actuação pode ser vista como uma homenagem à nossa herança cultural, mas também é uma forma de Baez se aproximar dos espectadores. Esse carinho notou-se também nas tentativas em falar português – uma língua que diz ser difícil – mas cujo esforço foi recompensado com fortes aplausos. O respeito e admiração do público mantiveram-se ao longo de todo o concerto, à medida que Joan Baez nos ia brindando com a habitual mescla de covers e material original. Inicialmente sozinha em palco, começou com “Donna Donna”, seguindo-se as brilhantes interpretações de “God is God” (de Steve Earle) e “ There but for Fortune” (Phil Ochs). Já acompanhada pela sua banda, recordou Bob Dylan com “It’s All Over Now, Baby Blue” ou a passagem pelo mítico Woodstock com “Joe Hill”.
O desfilar de temas incluiu ainda alguns originais como “Diamonds & Rust ”, assim como uma visita ao seu repertório cantado em espanhol (“Gracias a la Vida”, da chilena Violeta Parra, por exemplo) e mais um retorno ao legado de Dylan com “Seven Curses”. Todavia, talvez os momentos mais memoráveis tenham surgido nos dois encores: primeiro, viajamos ao passado e ouvimos os hinos “Imagine”, de John lennon, e “Blowin' in the Wind” de Dylan; na derradeira despedida, Joan Baez terminou este belo serão com Here’s to You“” e a poderosa “Where Have All the Flowers Gone”.
No final, ficamos com a ideia de que a idade é apenas um número, quando o espírito é jovem.
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terça-feira, 07 abril 2015