Reportagem John Maus no Porto
Vive Les Cônes
O Cão da Morte
“Corpo de Santo” foi o nome que a sempre activa Lovers & Lollypops deu à festa de Halloween que organizou no Maus Hábitos, sendo que o norte-americano John Maus foi o destaque principal deste mega evento que juntou música, dança e um delicioso espírito de festa.
Maus, conhecido pelas suas colaborações com o mítico Ariel Pink, é também dono de uma extensa carreira a solo. A sua veia artística leva-o a explorar os meandros do synth-pop e do post-punk, num som bem retro (ainda que não de forma propositada, faz questão de referir) e que consegue ser dançável e simultaneamente introspectivo. A própria actuação de palco reflecte essa dicotomia, sendo extrovertida (dança freneticamente) mas revelando, ainda assim, alguma timidez.
Contudo, e talvez por causa desse cruzamento de estados de espírito, algo faltou para que a sua prestação fosse realmente memorável. Ainda que tenhamos estado constantemente interessados no que estava a acontecer em palco, aquele sentimento de euforia que separa os bons concertos daqueles que ficam permanentemente gravados na nossa memória esteve ausente. Entre temas como “Bombs Away” e “Believer”, este já durante o encore, John Maus agradou sem deslumbrar - o que, se virmos bem, pode perfeitamente ser o resultado das elevadas expectativas que tínhamos criado devido à grandeza da sua obra, presente em trabalhos como “We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves” ou o mais recente “Screen Memories”. Foi deveras competente, disso não restam dúvidas, mas – e que nos perdoem os fãs acérrimos do senhor –podia ter sido (ainda) melhor.
Todavia, muito aconteceu nesta noite para que não tenhamos saído do Maus Hábitos desiludidos. Vibramos ao som do psicadelismo( com pitadas de electrónica) desenfreado de Gary War (também ele outrora colaborador de Ariel Pink, tendo feito parte da sua touring band), e usufruímos do belo aquecimento proporcionado por Luís Severo, aqui apresentando-se com o seu alter-ego O Cão da Morte, em conjunto com a Orquestra Favela Discos.
Junte-se a isto as propostas musicais de Paulo Cunha Martins, a fazer com que todos dessem um pezinho de dança na esplanada do Maus Hábitos (e que belíssimas danças vimos aí) e o requintado after- hours que contou, entre outros, com os sempre divertidos Vive Les Cônes, e temos aqui uma noite que resumiu na perfeição o espírito da Lovers & Lollypops e, acima de tudo, do Milhões de Festa: descoberta musical, convívio com amigos e celebração da arte e da vida.
Podemos estar no Outono, mas este serão teve um sabor a Verão.
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Organização:Lovers & Lollypops
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terça-feira, 02 janeiro 2018