Reportagem Jon Spencer Blues Explosion em Lisboa
Tem de ser mais rápido, mais encardido, mais colérico, mais… explosivo? Talvez por isso, não foi desta que o espírito dos blues voltou ao Tejo. Um bom regresso, e bastante aguardado, apesar de tudo.
Verão de 1999. Zambujeira do Mar. Um grupo de amigos acampa no Sudoeste, bem antes do festival se ter tornado uma simpática máquina de fazer farturas. É o fim da adolescência, ou pelo menos da primeira, aquela em que se descobre o cartaz umas semanas antes na televisão (Internet? O meu vizinho tem), em que se junta Ratos de Porão com Sérgio Godinho, e em que tudo é bom. Desse ano, pouco resta. Recordamos ainda os Tédio Boys nus em palco às quatro da tarde, alguns de nós em relativa comunhão com a natureza, e o concerto da Blues Explosion. Mais nenhum.
Treze anos e vários festivais depois, sem lançamentos desde Damage nem pressas para revelar o novo disco, o trio regressa a Portugal para uma dobradinha entre Porto e Lisboa. Longo nos pareceu o hiato, mesmo que Jon Spencer não se rogue a vir cá com os Heavy Trash, ou que Judah Bauer vá dando notícias na Dirty Delta Blues Band, banda de Cat Power.
O palco não poderia ser mais diferente. Já muito se desancou na sala TMN ao Vivo, no som, no clima de entreposto, nas meninas de azul-turquesa que fazem inquéritos à saída, aos quais falta a única resposta certa: soa a aquário.
Foi então debaixo de água, longe dos dias tórridos do Sudoeste, que a JSBX se apresentou na passada quinta-feira a um público bem mais maduro e com menos vontade de dançar. Sem alinhamento escrito, sem esperar mais de 10 segundos entre temas, Jon Spencer dá uma lição em como encher mais de hora e meia de concerto com músicas de menos de três minutos.
Privilegiando os terrenos confortavelmente roqueiros da discografia – e tentando mais uma vez bater o recorde de quantas vezes consegue repetir o nome da banda – Spencer deixa para segundo plano o espírito mais experimental e de fusão que sempre pautou o seu catálogo, fora as ocasionais brincadeiras com delay, um ou outro momento de jam, ou o delírio final no theremin.
Não faltaram também os crowd-pleasers: "Dang", "Bellbottoms", e para os gastrónomos da casa, o tema escolhido por Anthony Bourdain para a série "No Reservations". Nem nas entrevistas, nem em palco, se esconde este desaguisado com o rock actual, que para Spencer estará a amolecer. Tem de ser mais rápido, mais encardido, mais colérico, mais… explosivo? Talvez por isso, não foi desta que o espírito dos blues voltou ao Tejo. Um bom regresso, e bastante aguardado, apesar de tudo.
A primeira parte coube às irmãs Pega Monstro (não, não são uma equipa das "Wacky Races"), duo lisboeta que muito deu que falar nas últimas semanas com o lançamento do primeiro álbum, ensanduichadas entre a apresentação na Kolovrat e dois concertos em escolas secundárias da margem sul. Os nervos e a acústica de balneário terão sem dúvida pesado, e mesmo fazendo lembrar os tempos dos Pussy Galore de Jon Spencer, não era o melhor contexto para vermos uma banda destas.
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sábado, 20 dezembro 2014