Reportagem Judas Priest no Pavilhão Atlântico
Alegria e emoção à flor da pele foi o que se sentiu na última quarta-feira no Pavilhão Atlântico, para a celebração de um dos concertos mais esperados para as hordas da música pesada.
Numa romaria até ao Parque das Nações, metaleiros e simpatizantes despediram-se daquela que foi, talvez, a mais representativa e injustiçada banda de Heavy Metal, à face da terra. Inseridos na última digressão mundial a que intitularam conscientemente de “Epitaph Tour”, os Judas Priest deram o seu concerto definitivo em Portugal com a garra e a convicção que sempre pautou a sua música, para um público aquém do esperado. De facto e dadas as particularidades desta visita, foi estranho ver tão pouca gente a assistir a um concerto que se tornará mítico e que poderia ser um bonito desfecho destes Deuses do Metal. Não o foi e, nesse capítulo, a culpa terá de ser imputada a todos os metalmaniacs de mp3 que se gabam de conhecer toda a discografia da banda, os versos de cor e salteado mas que se desfizeram em desculpas para não responder a este apelo. Afinal, conhecer Judas Priest sem nunca os ter visto é o mesmo que papaguear que já se viu a Mona Lisa sem nunca ter ido ao Louvre. Embora, os indefectíveis metaleiros, em maioria evidente quando chamados ao local de combate, não tenham baixado as armas, tornando este momento muito mais quente para os convidados de Birmingham.
Com 42 anos de carreira e com mais de 30 álbuns entre originais, lives e compilações, a banda de "Painkiller" fez tudo aquilo que lhe competia e portou-se com uma altivez e uma dignidade de quem se orgulha por tudo aquilo que alcançou e é responsável. E isso implica tudo. As labaredas e fumaça no palco, os casacos de cabedal enfeitados com patches da especialidade, as lantejoulas e correntes e, "last but not least", a mota do lord Rob Halford. Essa apareceu na rotineira “Hell Bent for Leather”, já no encore, para delírio de centenas, em especial de um exuberante espectador que largou as muletas para vibrar em uníssono. Surgiram hinos atrás de hinos e o headbanging não pedia licença.
O veterano vocalista, entretanto reconciliado com as lides dos Judas Priest, lá ia amiúde às traseiras do palco mudar a fatiota e empolgar os ânimos com mais uma entrada triunfal. Tudo neles era grandioso, memorável e extravagante. Desfilaram clássicos como “Judas Rising”, “Starbreaker” e “Diamonds & Rust” - da autoria de Joan Baez - até ao posfácio da “Breaking the Law”, – com Rob a deixar as despesas da cantoria para os fãs – “Electric Eye” e “Living After Midnight”. Os mais atentos e expeditos notaram a falta de um senhor chamado K.K. Downing que recusou alinhar naquele lendário duelo de guitarras com Glenn Tipton, que assim se viu escudado do profissional e muito performativo Richie Faulkner. Scott Travis dos Racer X era o baterista de serviço, atrás do avôzinho Ian Hill que com os seus movimentos singulares de trás para a frente, carregava o groove da banda.
De outras canções vos poderíamos falar, de confissões anónimas como “Não há nada mais bonito do que isto, cara***”, mas fiquemos com estes versos finais, entoados por uma multidão num elucidativo estado de transe: «Living after midnight, rockin' to the dawn, Lovin' 'til the morning, then I'm gone, I'm gone!»
Uma viagem por todo o repertório, desde a era do New Wave of British Heavy Metal até ao conceptual “Nostradamus”, com os ingredientes die hard do costume: riffs possessivos, solos contagiantes e os horns up, criados por mais um dos grandes que nos disse adeus este ano: Ronnie James Dio.
...Até sempre Judas Priest!