Reportagem Justin Bieber em Lisboa
Depois de uma semana extremamente conturbada para o menino prodígio do Canadá, Justin Bieber passou por Portugal na noite de segunda-feira para dar continuidade à leva de 41 concertos no velho continente Europeu. Entre pancadaria com paparazzi, passear na selva urbana de Londres com uma máscara de gás, vómitos, desmaios, com a história a acabar no hospital, o receio de que algo pudesse correr mal no Pavilhão Atlântico era constante, principalmente para as fãs que acamparam desde sexta-feira na porta da maior (em dimensão) sala de espetáculos do país.
Carly Rae Jepsen, a principal coqueluche pop actual, esteve encarregue de comandar o aquecimento para aquilo que seria o concerto de uma vida para muitas meninas e respectivas mães. Dotada de uma beleza muito particular e com uma voz de facto capaz de captar atenções, Rae Jepsen apresentou-se às “beliebers” (sim, caso não saibam, as fãs de Justin Bieber têm um nome e gostam que as tratem assim) para mostrar “The Kiss”, álbum que dá um tecto ao aclamado hino de verão “Call Me Maybe”, cantado em jeito de encerramento de uma actuação de meia hora que mais pareceram dez minutos. Com uma presença de palco muito humilde e de uma simpatia estonteante, Carly faz-nos querer levá-la para casa.
Subitamente dez minutos surgem num contador, e a cada instante que passava sentíamos os nossos ouvidos invadidos por agudos femininos acima da dose recomendada, num clima de ansiedade que se prolongoudurante mais oito minutos.
“All Around The World” abre as festividades, e Bieber surge como um anjo caído do céu. Caído ou não, voltou a elevar-se várias vezes ao longo de todo o concerto, o que permitiu mais momentos de chinfrim e devoção das suas “beliebers”. Novamente, a viagem que Justin pretende nesta sua tour é a de se encontrar a si mesmo como pessoa e consciencializar-se do que já alcançou em 19 anos de vida. E por cada sítio que passa tem o objectivo de encontrar alguém que o compreenda. As “beliebers” compreendem e querem ir com ele. “Take You” acaba por ser um hino que todas sabem na ponta da língua e que cantam enquanto, chorosas, gritam pelo seu ídolo.
Muitas destas meninas querem deixar de ser solteiras e sonham com o rapaz de sonho. Aí, Bieber funciona como uma espécie de Principe Encantado, mas não tiveram muita sorte nesta noite. Uma menina teve a felicidade de receber uma espécie de lap-dance mais carinhosa durante “One Less Lonely Girl”, logo após “Beauty and The Beat”, que contou com Nicki Minaj projetada em três ecrãs ajeitados à pressa no centro do palco e uma mega produção visual de deixar o queixo caído.
Nota-se que Justin Bieber está a procurar seguir uma linha ao jeito de um Justin Timberlake meets Michael Jackson, já que são claras influências de ambos no seu trabalho, tentando assim adaptar o melhor dos dois mundos ao seu. Por falar em mundo, a primeira visita a “My World”, o primeiro álbum dá-se no medley que engloba “One Time”, “Eenie Meenie” e “Somebody To Love”.
Vê-se a olho nu que Bieber está cansado e a sua motivação e coordenação não estão no auge. Mas mesmo assim tenta manter-se no patamar do aceitável. “She Don’t Like The Lights”, um dos momentos mais agradáveis da noite acaba por ser irónico se pensarmos que recentemente o cantor agrediu um paparazzo. Ser vedeta por vezes é complicado mas faz parte de um estilo de vida que o cantor alcançou.
Um certo narcisismo está um presente em todo o espetáculo de Justin Bieber. E apesar da mensagem bonita que pretende passar, de que tudo épossível quando se segue sob o lema da auto-confiança, ele quer também frisar que agora é uma nova pessoa, com um novo visual, uma nova voz e um novo estatuto na indústria que tanto o persegue e deseja.
“As Long As You Love Me” começa a marcar o caminho para o fim mas é com “Believe”, a palavra-chave de todo este evento, que se termina o segmento principal do concerto. Justin Bieber de branco ao piano evoca todo o seu percurso e tudo aquilo que já alcançou. E pede para que não deixem de acreditar nele e também em tudo o que acreditam. Apesar de já termos visto este discurso num outro sítio, é bom que um cantor com tanta influência como Justin Bieber tenha a capacidade de encaminhar jovens mentes durante os anos da sua adolescência.
Supostamente tudo estava terminado até aparecer um vídeo com um comediante com voz de hiena a implorar por barulho e por mais agitação. Afinal, e feitas as contas, dois grandes hits estavam ainda em falta e foram esses mesmos que foram ali despejados: “Boyfriend”, numa versão um pouquinho mais fraquinha, e “Baby” completamente fora de tom. Penso que se deve ao facto de ter sido um hit quando Bieber ainda se encontrava na pré-mudança de voz. Agora apenas soa a coisa estranha.
Despedidas assim meio a correr e uns agradecimentos gerais terminam a noite que para muitas foi inesquecível e para outros um bom concerto. Justin Bieber é novo, tem a vida pela frente e ainda há aspectos a polir na sua obra. Mas para já, e com a produção vistosa que carrega às costas, ficam aparentemente cobertas as suas pequenas falhas.
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014