Reportagem Kamasi Washington no Porto
Kamasi Washington é, hoje em dia, um verdadeiro fenómeno. Prova disso foi a sua visita à Casa da Música esta segunda-feira, onde actuou perante uma Sala Suggia quase lotada - uma notável conquista ainda mais impressionante se tivermos em conta que falamos de um músico de jazz. Mas o que torna Kamasi tão popular junto do grande público, para além da sua inspirada colaboração com Kendrick Lamar num dos mais marcantes álbuns do ano passado “To Pimp a Butterfly” - é a dinâmica fórmula musical que o saxofonista apresentou no triplo “The Epic”- um contagiante caldeirão sonoro de jazz, funk, gospel ou blues que rapidamente se transformou num dos mais acarinhados discos de 2015. Face a tal hype, as expectativas para a estreia em Portugal eram elevadas, mas a verdade é que foram definitivamente superadas.
Como é óbvio, o artista californiano não se fez acompanhar, como aconteceu durante as gravações da sua aclamada obra, de uma orquestra de 32 músicos e de um coro de 20 elementos, mas mesmo a formação mais reduzida conseguiu reproduzir a magia que as composições possuem em estúdio. Temas como “Change of the Guard”, “Re Run Home” ou “The Rhythm Changes” soaram fantásticos ao vivo e contribuíram para o maravilhoso clima de festa que se viveu dentro da sala. No fundo, o que aqui vimos, ouvimos e sentimos foi uma verdadeira celebração da música afro-americana: recordamos gigantes do jazz como Miles Davis, John Coltrane ou Sun Ra, mas também o espírito funk de George Clinton -porque, no fundo, a música de Kamasi vive dessa incansável exploração artística. Ninguém duvida que a base da sua identidade musical encontra-se fortemente enraizada no jazz, mas há uma decisão consciente de não se fechar nesse mundo, abrindo as portas a outras influências que tornam a sua abordagem ao estilo num exercício criativo livre de barreiras.
Contudo, se Kamasi Washington foi, naturalmente, o centro das atenções, os restantes músicos também tiveram oportunidade de mostrar os seus talentos. Destacamos a bela e quente voz de Patrice Quinn, o entusiasmante contrabaixo de Miles Mosley e, claro, a dupla de bateristas que nos presenteou com notáveis solos de bateria. A certa altura, o número de músicos em palco passou de sete para oito com a introdução de Rickey Washington- o pai de Kamasi, que alternou entre a flauta e o saxofone soprano e cuja presença adicionou um toque familiar ao espectáculo, sentimento intensificado com o tributo à avó do mais novo Washington em ”Henrietta Our Hero”.
No fim, entre momentos de virtuosismo e alturas dedicadas à improvisação, Kamasi Washington provou (ainda que não houvesse muitas dúvidas) que é um dos mais excitantes artistas da actualidade, conseguindo reinventar o jazz ao mesmo tempo que convida as novas gerações – e não só – a explorá-lo.
-
Organização:UGURU
-
sexta-feira, 22 novembro 2024