Reportagem Kikagaku Moyo no Porto

Considerados um dos segredos mais bem guardados do país do sol nascente, os japoneses Kikagaku Moyo visitaram pela primeira vez o nosso país no fim-de-semana passado. Curiosamente, apesar de nunca terem estado cá antes, conseguiram encher a sala do Maus Hábitos, o que nos leva a questionar se estaremos perante um novo fenómeno de popularidade. Seja como for, o carácter eclético da música praticada pelo quinteto de Tóquio, onde o rock psicadélico, a folk e os sons orientais coexistem pacificamente, certamente que contribuiu para que o concerto esgotasse.

Além disso, existe nas composições da banda nipónica uma interessante dicotomia sentimental: por um lado, embarcamos numa viagem serena por um mundo harmonioso e de paisagens bucólicas; todavia, somos igualmente bombardeados com esporádicos rasgos de distorção, que rapidamente dão lugar à pura e descontrolada improvisação. Numa actuação bastante competente, onde o mar de gente dificultava a visão para o palco, pudemos tanto observar e sentir a delicadeza de um tema como “Kodama”, como dançar livremente ao som de “Smoke and Mirrors” ou “Streets of Calcutta”. No final, ficou no ar a sensação de que esta passagem foi a primeira de muitas e que os Kikagaku Moyo podem ter em Portugal uma segunda casa.

Na primeira parte, o misterioso colectivo HHY & The Macumbas, liderado por Jonathan Saldanha, transformou o Maus Hábitos num local de bizarros rituais sonoros. O grupo, que nesta noite contou com oito elementos em palco, transportou-nos para o seu universo musical excêntrico, onde sobressaem os tons fantasmagóricos dos instrumentos de sopro ou as batidas metódicas da secção de percussão. Pouco a pouco, ficamos imersos num mar de sons caoticos e minimalistas, deixando que a nossa mente e o nosso corpo digerissem a infernal receita musical deste poderoso ensemble.