Reportagem Kim Larsen no Porto
Depois da estrondosa passagem pelo Entremuralhas no palco “Alma” em 2012, Kim Larsen, a mente brilhante por detrás do projecto :Of the Wand and the Moon: regressa ao nosso país. Desta vez com duas aparições a “solo”. No pequeno e acolhedor palco do Breyner85 no Porto e em Coimbra no Salão Brazil no dia seguinte, respectivamente.
Para a primeira parte estariam reservados os Coimbrenses A Jigsaw, um duo irrepreensível que vem trilhando o seu caminho já desde os finais dos anos 90. Com o seu blues-folk de contornos sóbrios e com voz raspada, a homenagear lendas como Tom Waits ou um Nick Cave desenfreado. Acompanhado a voz, um piano com tom de clara mágoa e melancolia, é perfeito de se imaginar a ser tocado num pub longínquo nos subúrbios de uma Londres pobre e suja, ou num filme de Western. Canções que nos agarram a alma e fazem de nos reféns. Pintando toda uma aura de decadência com títulos “tongue-in-cheek” como “Them Fine Bullets” ou “Bring Them Roses”, que transportam o ouvinte de imediato para universos bizarros de outros tempos. Assim são os A Jigsaw, uma bala com uma intensidade emotiva extraordinária.
Sem teatralidade e apostando na simplicidade,Kim Larsen subiu ao palco e pôs de imediato toda a alma na guitarra e suas cansões. Abrindo com a magnífica “Wonderful Wonderful Sun” do aclamado “Sonnenheim”, a voz do dinamarquês ia pintando paisagens das suas letras com temáticas pagãs. Deslumbrando os presentes com a sua melancolia e toque quase ancestral através das cordas de uma guitarra solitária, que ia ser amparada por linhas de voz igualmente espectrais. Tocando clássicos como “Sunspot” do “The Lone Descent” ou uma das favoritas dos presentes “Lucifer”, que ajudaram cantando o refrão . Não esquecendo também um tema bastante poderoso do seu primeiro álbum mítico “Nighttime Nightrhymes” já do século passado, a amarga “I crave for you”. Tendo recomeçado a música duas vezes, devido a um engano, acabou por ser um dos pontos mais interessantes da noite, tal é a intensidade da sua interpretação.
Tempo ainda para uma música nova não editada intitulada “I called your name”. Definitivamente possuidora de um som mais cru e “despido” ao invés do que os temas mais sonantes de :Of the Wand and the Moon: nos habituaram. Contudo não defrauda expectativas de maneira alguma, sendo interpretada na perfeição por Kim Larsen. No entanto era notável o cansaço do músico, que ia bebendo cerveja por entre os intervalos das músicas, encorajando a apreciação do álcool aos que se encontravam também com uma garrafa na mão . Não faltou outro regresso para o “Sonnenheim” com a “Hail hail hail”, famoso cântico abraçado pelo público presente, que apesar de escasso era fiel e entusiasmado.
A medida que os acordes iam ressonando nas paredes do Breyner, o eminente fim da noite estava para chegar, e com um simples “Obrigado” Kim Larsen nos deixou, descendo do palco. Para um sábado a noite a afluência esperava-se maior, acabando por ser esse o ponto mais negativo de um serão que mesmo assim provou ser bastante intimista. Embora seja de notar que os temas ganham outro patamar, quando acompanhados de outros músicos que dão vida a OTWATM nas aparições ao vivo.
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Organização:Seven Hills Productions
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sexta-feira, 22 novembro 2024