Reportagem Kings of Convenience @ Col. Recreios
Poucas bandas enchem uma sala de espectáculos como os Kings of Convenience encheram o Coliseu lisboeta ontem à noite: quer de legiões de fãs que acarinham a banda norueguesa, quer de calor e de um à vontade em palco característico da mesma e que não deixa ninguém indiferente.
Lançados na música graças ao seu Quiet is The New Loud, editado em 2001, Eirik Glambek Bøe e Erlend Øye deliciaram com o seu acústico pop, ora melancólico, ora alegre contagiante, os inúmeros devotos das melodias suaves e quase faladas. Mais do que o reportório agradável, mas não muito original, de influências folk e bossa nova, os músicos são quem sustentam o espectáculo, trazendo uma aura carismática e bem-disposta ao palco e a todo o Coliseu dos Recreios.
Com "My Ship Isn't Pretty", do recém lançado Declaration of Dependence, começam o espectáculo - Øye e Bøe entrecruzam floreados vocais e de guitarra, sempre com um sentimentalismo e suavidade afectada. Numa noite intimista, os noruegueses percorreram a mão cheia de hits esperados, como "Misread", "I'd Rather Dance With You", "I Don't Know What I Can Save You From", com especial destaque para a mágica "Homesick" ou mesmo "Know How", originalmente partilhada com Feist. Porém, a sua ausência não é notada, pois, a dupla é versatil ao trocar de instrumentos e trocar impressões e no desenrolar da noite, movem de forma progressivamente maior as massas lisboetas. Num concerto que parecia extenso pela quantidade de músicas tocadas, houve ainda espaço para "Corcovado", originalmente de Tom Jobim, na qual Bøe se safa muito bem no português e Øye serve de instrumento de sopro humano.
Verdade seja dita, quem brilhou intensamente na cidade de Lisboa foi esta metade dos Kings of Convenience - Øye é entertainer nato, pantera cor-de-rosa fingida, sempre com uma tirada divertida debaixo da lingua, pronto a fazer dançar, cantar, assobiar e bater palmas (só à frente, que atrás causa distúrbio). Convidados a subir ao palco, os corajosos fãs não têm descanso, pois o primeiro convida-os para uma competição de dança e estes não ficam de pé atrás. É encanto, claramente.
Rodeados por uma maré de fãs, no final do concerto, é fácil perceber o porquê do sucesso desta banda ao presenciá-los ao vivo, na sua quarta vez em terras lusas... pois não fosse o pop acústico a atingir-nos o coração, seriam os seus executores, que, num jeito descontraído e tranquilo, conquistam qualquer um.