Reportagem Kiss + Megadeth em Oeiras
Os fãs dos Kiss tiveram finalmente a oportunidade de ver ou rever estas estrelas do rock, trinta e cinco ano após a primeira e única passagem destes por Portugal. A acompanhá-los, como convidados especiais, estavam os ilustres Megadeth, um dos grandes nomes do metal. Estavam reunidas as condições para uma grande noite de concertos no Estádio Municipal de Oeiras, ou Estádio Mário Wilson, como preferirem.
Afinal de contas nem tudo correu às mil maravilhas, pelo menos para os seguidores da banda de Dave Mustaine. Muitos daqueles que estiveram presentes principalmente ou somente para ver os Megadeth, não puderam assistir ao concerto na íntegra, devido a uma fila única e interminável que se formou à entrada para o estádio.
Quem não esteve presente desde o início pode ter perdido temas emblemáticos como "Hangar 18", "The Conjuring" (música que Mustaine deixou de tocar à vários anos e só recentemente decidiu voltar a tocá-la), a mais nova mas igualmente forte "The Threat Is Real", "Sweating Bullets" e "Take no Prisioners". Um estádio muito despido de público na fase inicial do concerto dos Megadeth foi-se compondo aos poucos e muitos já tiveram oportunidade de assistir a outros clássicos como "Take No Prisoners", "Trust" e "Tornado of Souls", um autêntico desfilar de metal ao seu melhor nível, com o virtuoso Kiko Loureiro a mostrar-se mais do que à altura do importante posto que ocupa na banda e Dirk Verbeuren a surpreender com a sua qualidade apenas aos que não conhecem o seu anterior trabalho, nos suecos Soilwork.
Dave Mustaine é ele próprio um exímio executante, uma autêntica lenda viva do metal, mas um dos seus segredos é também o de ter-se rodeado sempre de grandes músicos. Por isso a grande qualidade instrumental esteve garantida e compensou algum declínio nas prestações vocais do líder da banda, mas neste concerto a prestação do músico, nesse capítulo, até esteve muito aceitável durante a maior parte do tempo.
Aproximava-se rapidamente o final do espetáculo e foi tocado o tema-título do forte último álbum, "Dystopia". Os Megadeth ainda tinham guardado algumas cartas na manga, musicalmente falando, porque como é sabido Mustaine não é nada dado a show-off ou a frases ensaiadas para agradar ao público. Falamos somente no naipe de clássicos destinados a levar o público ao rubro no fim. "Symphony of Destruction" e "Peace Sells" cumpriram essa função com distinção e para o encore estava guardado naturalmente o Ás de trunfo "Holy Wars... The Punishment Due", que fechou um óptimo concerto que só peca por não ter sido mais longo e por nem todos terem tido a oportunidade de vê-lo na totalidade, conforme foi referido acima.
Ao contrário dos Megadeth, que apostam totalmente na qualidade de execução como pilar para um concerto bem sucedido, os Kiss aliam o "circo", no bom sentido, à parte musical. Um verdadeiro grande espetáculo a nível visual foi o que os fãs portugueses e estrangeiros que se encontravam no estádio, tiveram oportunidade de assistir.
Depois do habitual anúncio da entrada em palco da "The hottest band in the world", os Kiss arrancaram a sua performance com a velhinha "Deuce", com um som ainda algo desiquilibrado e os músicos a acabarem a tocar juntos e sincronizados. "Shout It Out Loud" mostrou de imediato que a voz de Paul Stanley já não é o que era, o que é natural dado os seus sessenta e seis anos de idade, mas o famoso vocalista/guitarrista compensou com muita interação com o público e boa presença em palco. O músico apelou ao público para cantar o refrão do tema supracitado e os fãs fizeram-lhe a vontade, mostrando que estavam ali para fazer a festa.
Uma pesada "War Machine" mostrou que os problemas sonoros já estavam resolvidos. Gene Simmons mostrou-se em melhor forma a nível vocal do que o seu colega e co-fundador da banda e também puxou pelos fãs ao dizer que queria ver as suas mãos, com o seu estilo inconfundível. A banda anunciou que se ia seguir old school Kiss do seu primeiro álbum e a música escolhida foi "Firehouse", na qual no final se pôde ver Simmons a cuspir fogo de uma espada incendiada. Em seguida começou "Shock Me" na qual Stanley tocou guitarra ajoelhado e Tommy Thayer assumir as despesas vocais, sendo que sairam três foguetes oriundos da guitarrista/solo da banda durante a música.
O espetáculo estava ao rubro e continuou com o público a cantar os "Yeah" do tema "Say Yeah", conforme solicitação de Paul Stanley. Depois foi Gene Simmons a puxar pelos fãs para que cantassem em "I Love It Loud", mas quase nem seria preciso face ao apelo natural desse tema. O rock estava em alta no Estádio Municipal de Oeiras e a energia contagiante de "Flaming Youth" não deixou o entusiasmo do público esmorecer. Simmons disse aos fãs que queria ver as suas mãos e "Calling Dr. Love" começou com estes a bater palmas ao som deste orelhudo tema. "Lick It Up" obteve também uma grande reação por parte dos presentes.
Durante um solo de baixo, Gene Simmons cuspiu "sangue", continuou a tocar e pouco depois "voou" para um pequeno palco suspenso no ar para em cima deste vocalizar o tema "God of Thunder". Um número bem executado por parte do artista e que foi muito ovacionado pelos fãs. Seguiu-se o hit "I Was Made for Lovin' You" que foi um dos mais cantados por parte dos espectadores, o que atenuou um pouco a fraca prestação de Paul Stanley, que sentiu notórias dificuldades para dar voz a um dos temas mais famosos do grupo. Stanley no entanto é um grande entertainer e quando terminou essa música afirmou que queria estar com o público mas para tal acontecer este teria de lhe pedir e solicitou que todos gritassem o seu nome o mais alto possível. Stanley fez o prometido e fez slide por cima dos fãs até um palco situado na regie, no qual efetuou a performance do clássico "Love Gun", com os restantes membros dos Kiss a acompanharem o músico no palco habitual. O cantor/guitarrista regressou para junto dos seus companheiros para interpretarem "Black Diamond".
Para o encore estavam reservadas "Cold Gin", e as incontornáveis "Detroit Rock City" e "Rock and Roll All Nite" que terminaram num clima de festa uma autêntica celebração da carreira de uma banda singular do rock, daquelas que não terão réplicas no futuro. Foi com confétis e fogo de artifício que acabou aquela que pode bem ter sido a derradeira vez que os Kiss tocaram em Portugal, a avaliar pelos trinta e cinco anos que demoraram a cá voltar e pela idade já algo avançada da mítica banda.
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sexta-feira, 13 julho 2018