Reportagem Lamb no Porto
Foi uma sala relativamente bem composta (mas não cheia) que acolheu o regresso ao Porto dos britânicos Lamb, duo de Manchester formado por Lou Rhodes e Andy Barlow que há mais de duas décadas que tem vindo a construir um admirável romance com o público português.
Segunda-feira foi dia de acrescentar um novo capítulo, agora já numa posição de veteranos a olhar para o seu próprio legado e com vontade de celebrá-lo – afinal de contas, o homónimo primeiro álbum foi lançado há 21 anos e teve direito a interpretação na íntegra. Abrindo com “Lusty”, os Lamb foram debitando temas que marcaram os primórdios da sua carreira, o que representou um aspecto simultaneamente positivo e negativo. Se por um lado escutar clássicos como “God Bless”, “Cotton Wool”, “Górecki” ou a contemplativa “Zero”, aqui com uma majestosa secção de cordas, constituiu uma experiência aprazível, por outro recordar o supracitado disco respeitando a ordem em que as composições aparecem na versão original pareceu demasiado forçado, assim como inevitavelmente previsível. Percebe-se que seja um gesto bonito e um acto muito em voga nos dias que correm, mas por vezes o ritmo do concerto ia sendo quebrado à custa disso, sendo que algumas das faixas resultariam melhor se a sua posição no alinhamento tivesse sido alterada de forma a criar um espectáculo mais fluido e dinâmico.
Terminado o primeiro “acto”, a segunda parte da prestação foi dedicada ao restante percurso da banda, misturando temas mais recentes – com destaque para o novo single “Illumina” -com hinos de uma geração que já vai como “What Sound” ou a obrigatória “Gabriel”, aqui já no encore. No final, o balanço é algo agridoce: se efectivamente foi agradável assistirmos a esta sessão de nostalgia (com algumas paragens no presente e com direito a convidados como Kevin Davy no trompete), a verdade é que nesta fase da sua existência, os Lamb são somente um mero símbolo do passado, encontrando-se desprovidos da relevância que outrora tiveram; o facto de o Coliseu não estar lotado quando noutros tempos teria sido pequeno é prova disso, ainda que o dia da semana também não tenha ajudado. Contudo, a julgar pela reacção geral do público, nada disso importa…lá diz o ditado popular que recordar é viver.
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Organização:Everything is New
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terça-feira, 02 janeiro 2018