Reportagem Long Distance Calling - MusicBox
Noite sem palavras, mas em que as guitarras tudo disseram, num Musicbox bem composto em noite de Domingo. Viam-se pela sala fãs de Löbo, fãs de Long Distance Calling, todos eles fãs de música que vive do som e não de palavras, que envolve com muralhas de som e não com vozes.
Os Löbo, quarteto português, foram os primeiros e acabariam por ser os melhores. Intensos e poderosos ao vivo, com coordenação quase perfeita entre os quatro membros (sofreram recentemante mudanças na formação, e as falhas que têm rapidamente serão corrigidas pelo maior remédio de todos: o tempo) na criação de um som envolvente e, por vezes, arrepiante.
Não são post-rock, não são metal, não são doom, nem são nada que encaixe num género; são uma rajada de ar fresco, a fazer numas vezes os Swans, noutras os Godspeed You! Black Emperor, mas sempre soando únicos. Tudo é unido pelo excelente baterista (que, com aquela energia, parece que a qualquer momento vai saltar do instrumento e atirar-se ao público), e pelas teclas, que criam as melodias que vão sendo depois preenchidas de forma perfeita pelo baixo e guitarra, em sintonia. As músicas são longas, envolventes, num crescendo directo que nunca brinca com as expectativas e vai sempre em direcção ao que quer. As explosões não são repentinas, mas antes planeadas e impressionantes na forma como ocorrem. Talento ali não falta; deram o concerto da noite, e agora resta esperar pelo crescimento inevitável. Mais prática, mais tempo a tocar todos juntos, e chegarão num instante àquilo de que já se aproximam: uma grande banda. Quem os for ver ao vivo sem os conhecer, sairá agradavelmente surpreendido; quem os for ver já tendo ouvido o excelente Älma, único EP da banda até agora, sairá com expectativas confirmadas e até superadas. E, seja qual for o caso, a vontade de os rever impera.
Os Long Distance Calling, o segundo quarteto da noite que chegou não muito depois, mostraram-se competentes, energéticos, mas mais genéricos e menos impressionantes. Um post-rock mais hard (ou doom, ou seja lá o que for), sempre directo e apostando em guitarras fortes e simples e não em camadas de som, como se poderia esperar. Perto de hora e vinte minutos de energia pura, com um público sempre convencido e envolvido, agradecendo com um headbanging suave que acompanha aquela bateria (excelente e impressionante, tal como o que já antes tinha pisado o palco) e aquelas guitarras. Um dos guitarristas é claramente o mais carismático e caricato do grupo: vai correndo pelo palco, aproxima-se da berma com língua de fora, e não fica um segundo parado.
Arecibo, por exemplo, é duma energia que contagia facilmente os presentes, mas nunca deixa de soar a algo que já ouvimos antes. São óptimos no que fazem, mas sente-se o que já se sentia em disco: um potencial que não está ainda totalmente explorado, uma banda que pode ir mais além. O concerto esteve longe de desiludir, e nunca esteve abaixo de entusiasmar minimamente, mas espera-se agora que continuem a evoluir e que em breve cheguem a um patamar superior. Por agora, ficamos com este belo concerto que, mesmo deixando um sabor familiar na boca, mostrou uma banda de qualidade.
Dois belos concertos, o primeiro melhor que o segundo, de duas bandas que trabalham o som de formas diferentes (os Löbo atrevem-se a experimentar mais e a esticar ao máximo as suas canções, enquanto que os Long Distance Calling vão por um caminho mais directo), mas de formas igualmente satisfatórias.
Ambas as bandas podem chegar mais além, e ambas têm um inegável potencial que o tempo há-de explorar da melhor forma. Por agora, ficamo-nos com esta óptima noite, em que guitarras e baterias disseram tudo o que havia dizer, e em que as muralhas do som envolveram de excelente forma todos os presentes.
Desilusões, essas, dificilmente terão havido.