Reportagem Low em Lisboa
O trio do Minnesota veio ao Lisboa ao Vivo celebrar um novo álbum e revisitar os êxitos do passado
Um concerto de Low tem uma certa religiosidade ou se preferirem espiritualidade, para quem o termo religioso cause algum prurido.
Simplicidade, minimalismo, um baixo, uma guitarra, uma bateria e duas vozes harmoniosas, Alan Sparhawk e Mimi Parker, que se complementam como que unidas por um matrimónio, cheio de conivências, daqueles em que um termina as frases do outro. Não será de estranhar que a banda complete 25 anos de carreira e os vocalistas sejam efectivamente casados.
Uma plateia de algumas dezenas de ilustres, uns desconhecidos e outros nem tanto. Um desses ilustres um pouco mais conhecido era Pedro Mexia que também estava a assistir ao concerto. Todos estavam lá com um propósito. Uns para para descobrir uma banda genuína, introspectiva, com letras pungentes em canções rock lentas e com arranjos minimalistas, longe do frenesim e das “purpurinas” ou jogos de cenários de algumas bandas mais recentes. Os outros para recordar os êxitos antigos e apreciar o novo álbum “Double Negative”.
O espectáculo serviu para apresentação e promoção do novo álbum, lançado uns dias antes, um álbum mais vigoroso e com mais distorção.O concerto foi iniciado com o tema “Quorum” do último trabalho da banda. No alinhamento houve lugar ainda para outros temas do mesmo álbum, como, “Tempest”, “Always Up”, “Fly” e “Dancing and Fire” e que foram bem recebidos pelo público.
Não faltaram também os êxitos antigos, como “Plastic Cup”, “Nothing But Heart”, “Holy Ghost”,” What a Part of Me” não esquecendo o tema “ Do You Know How To Waltz”, que protagonizou o momento de mais drone music da noite.
Não são depressivos, não são melancólicos, são meditativos (se é que o termo existe), as suas letras permitem uma transferência de sentimentos, identificamo-nos com as sensações, reportam-nos para situações que vivemos ou que estamos a viver. Está tudo lá, a angústia, a incerteza, a reflexão, envoltos em composições belas e etéreas, por vezes quase hipnóticas.
Temas bem tocados, bem cantados, uma proximidade entre o público e a banda que se fez de silêncios atentos para escutar as músicas, apenas interrompidos por palmas vigorosas e alguns sussurros a dizer “são tão bons” e umas ocasionais manifestações de afectos mais sonoras no intervalo dos temas.
No fim do concerto lugar ainda para um encore com o tema “Murderer”, uma refexão sobre a capacidade de matar, que todos temos. O vocalista Alan Sparhawk confessou que no encore tocavam apenas mais um tema pois estar tanto tempo de pé não era muito saudável.
Os Low são daquelas bandas que conhecemos e com as quais desenvolvemos automaticamente uma empatia, uma respeito e consideração. Não despejam os clichés comuns “i love you”, "you are so special”, mostram credibilidade e sentimos que o que é transmitido no seu trabalho e nos seus afectos ao interagir com público é real e genuíno. São o equivalente àquelas pessoas que conhecemos, cordiais e reservadas num primeiro encontro mas cheias de profundidade e potencial a descobrir.
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sexta-feira, 05 outubro 2018