Reportagem Marilyn Manson em Lisboa
Nove anos depois da sua última actuação em Portugal, Marilyn Manson regressou ao Campo Pequeno a propósito da digressão de promoção a "Heaven Upside Down" - o décimo álbum de originais que o artista editou em 2017.
Poderá ter sido das figuras mais controversas na música mainstream por alturas do início do novo século, mas actualmente reconhecemo-lo mais previsível: desde "Born Villain" (2012) que o artista americano se tem deixado guiar por um trajecto criativo menos convincente. Poucos são os singles que recordamos desde então e a sua ausência do alinhamento desta noite é evidente, dada a incidência do mesmo nos álbuns da primeira metade da carreira de Manson.
Em palco, consideramos aqui alguém perito em entreter plateias através de actuações tão conceptuais como as narrativas e elementos visuais que cercam discos incontornáveis como "Antichrist Superstar" (1996) e "Mechanical Animals" (1998). Esta noite, Manson trouxe-nos um espectáculo enquadrado por uma postura de revolta, até ver, arbitrária. Em conflito permanente com os microfones e respectivos suportes e com letras mal memorizadas, a verdade é que esta foi mesmo das actuações do músico mais celebradas a nível de público. A arena do Campo Pequeno encheu-se de fãs de todas as idades, mostrando-nos com surpresa ou não que o impacto mediático de Manson continua a atravessar várias demografias.
"Irresponsible Hate Anthem" e "Angel with the Scabbed Wings" abriram a noite fazendo-nos recuar a 1996 e ao mesmo tempo encarar uma realidade presente onde uma voz já falha em acompanhar os momentos mais agressivos e frenéticos, respectivamente, de ambas as canções. Mas a gestão de folgo consegue ainda assim ser feita de maneira a que "Deep Six" ganhe toda uma energia que em álbum soa bem mais restrita.
"Kill4me" trouxe fãs a palco, acompanhando alguns dos riffs mais certeiros que habitam no último álbum. Por entre pausas demasiado longas e uma canção nova guardada para encore, Manson parece permanentemente frustrado mas radiante com a forma extremamente audível com que é celebrado pelo público português. Para o final, "Coma White" termina a actuação com a mesma força que encerra "Mechanical Animals" e recorda-nos o que nunca esquecemos: esta é uma figura permanentemente conturbada, que encontra precisamente nesse caos circunstancial a pulsão necessária para o seu ímpeto criativo.
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segunda-feira, 02 julho 2018