Reportagem Mariza @ Coliseu dos Recreios
A noite do dia 1 de Novembro foi a escolhida para o segundo concerto de Mariza no Coliseu dos Recreios, com a Música no Coração.
Sem precisar de apresentações, Mariza é conhecida por todos, adorada por muitos e leva a nossa música em viagens por todo o Mundo. Viagens essas que inspiraram o seu último álbum, “Terra”, dando-lhe bocadinhos dos lugares por onde passou. Este trabalho deu título a este concerto a que muitos acorreram e esgotaram os dois dias em Lisboa.
Em palco Mariza é, como sempre, acompanhada pelos fabulosos músicos: Ângelo Freire, na guitarra portuguesa; Diogo Clemente, na guitarra acústica; José Marinho Freitas, no baixo; Simon James, no piano e trompete; e Vicky Marques, na bateria / percussão.
Desde logo foi muito fácil ver que todas as músicas tinham bastante significado, despertando sentimentos e envolvendo um público inicialmente “muito tímido”, notava a fadista. A magnífica voz de Mariza embalava todos os presentes e inspirava um voo pelas melodias das suas músicas.
Mariza pedia mais animação e entrega ao público que aos poucos lá se foi soltando e correspondendo à energia que vinha do palco, preferindo muitas vezes o silêncio e ouvir todos os pormenores em vez de cantar e dançar, como Mariza gosta que os seus concertos sejam: em festa.
Ao longo do alinhamento podemos ouvir grandes músicas como “Já me deixou”, “Maria Lisboa”, “Morada Aberta”, “Meu fado meu”, “Barco Negro”, “Fado Primavera”, “Rosa Branca”, “Minh’Alma” e “Feira de Casto”, entre muitos outros.
Durante todo o concerto é garantida e demonstrada a elevada qualidade dos músicos em palco. É difícil ficar indiferente às melodias das violas ou do baixo, das passagens de piano ou trompete, ou às geniais percussões. Vários solos dos diferentes músicos são tecnicamente irrepreensíveis, uns dos quais de bateria / percussões que não seria habitual num concerto de fado mas que dá um brilho especial a estes concertos.
É bom ouvir fados só com bateria, piano e baixo, como “Tasco da Mouraria”, é algo que alguns estranham “fado típico” mas que consegue atingir-nos com o seu significado, tanto como as simplesmente tocadas com guitarras e que nos remete para uma linha sempre presente no trabalho de Mariza que não se quer deixar prender e limitar por convenções, abrindo espaço à evolução e transformação do seu género musical, sem nunca perder o que o torna tão especial, o sentir.
Tivemos oportunidade de ouvir também “Vozes do Mar” um poema de Florbela Espanca, musicado por Diogo Clemente, e que nos fala do mar, de saudade, de Portugal, de Camões, o que dá oportunidade à fadista de homenagear esta grande escritora; “Tasco da Mouraria” que conta a história da infância de Mariza e de como começou a cantar; “Beijo de Saudade” gravada em dueto com Tito Paris e que, em concerto, Mariza canta dividindo-se entre o português e o crioulo.
Para acabar, como não poderia deixar de ser, “Gente da minha terra”, uma música arrebatadora e que é cantada no meio do público, ao pé das gentes que inspiram a cantora e para quem ela mais gosta de tocar.
Mas a noite não podia acabar ali e Mariza voltou, com os dois guitarristas. Dirigiram-se para o meio do público e, depois de tornar este grande espaço numa acolhedora tasca, Mariza pediu silêncio, que se ia cantar o fado e sem qualquer amplificação, surgiu o ponto alto da noite. Mariza cantou em plenos pulmões e todo o coliseu ouviu, os dois guitarristas também cantaram e deliciaram todos com um momento que se transportou para lá do Coliseu de Lisboa, e nos levou por ruelas estreitas de um bairro Lisboeta onde numa casa de fados, se canta simplesmente porque se sente.
Já novamente no palco do Coliseu, “Cavaleiro Monge” e, de novo, “Rosa Branca” desta vez com todo o público em pé, a dançar e cantar, tal e qual como um concerto de Mariza deve ser vivido.
Como era de esperar foi uma grande noite de música onde esteve presente a nossa cultura e o orgulho de ouvir algo tão português cantado por uma voz assim.