Reportagem Mastodon em Lisboa
Cinco anos e dois álbuns se passaram desde a última visita dos Mastodon à cauda da Europa. Foi com The Hunter que o Coliseu recebeu a banda-sem-frontman, acompanhados pelos Red Fang, numa sala menos ingrata em termos de som que esta que agora os acolhe e, por isso, desta feita apenas houve direito a “Black Tongue” para assinalar a passagem pelo disco de 2011.
Once More ‘Round the Sun não incluiu Portugal na sua rota, e pouco espaço tomou no concerto da Sala Tejo, ouvindo-se apenas “Ember City” e “Chimes at Midnight” de forma bastante espaçada. É o mais recente Emperor of the Sand que carrega a responsabilidade da noite, mas não é nele que recaem as atenções de um público que ainda não parece habituado à novidade, e acalma perante o disco de Março – exceptuando na dançante “Show Yourself”.
A sala compôs-se cedo, nunca chegando à totalidade da lotação, para receber os ingleses Black Peaks, mas foram os americanos que satisfizeram a sede dos lisboetas.
Uma setlist que se veio a revelar longa, resultando em duas horas de concerto, iniciou-se com “Sultan’s Curse”, que encabeça também o álbum deste ano. Se em “Divinations” a voz de Brann Dailor ficava a meio da sala, há músicas que não podem falhar à lista dos Mastodon e que não sofrem com condições adversas – ao desenfreado batimento do início de “The Wolf is Loose” os primeiros corpos subiram acima dos outros e marcou-se o primeiro ponto alto da noite. Seguiu-se “Crystal Skull”, que no clássico Blood Mountain conta com o toque de Scott Kelly (Neurosis) – participação que se veio a revelar tradição em todos os álbuns do quarteto --, e foi na dobrada “Bladecatcher” e “Colony of Birchman” do mesmo disco que se afirmou a destreza das cordas. Não que seja novidade, mas Brent e Bill mostram-se exemplares durante o intrumental enlouquecido que veio anteceder “Megalodon”, o primeiro de dois toques em Leviathan. A sala estava mais que aquecida, os três atacantes de palco passeavam-se e levavam as cordas ao ar, nunca deixando que os dedos parassem no mesmo lugar. Com uma simpatia que já lhe é conhecida, Troy Sanders queria beijar-nos a todos. Fê-lo como melhor pôde, desfilando uma discografia invejável e inigualável. “Oblivion” tomou um ponto mais calmo e assinalou o disco dedicado à irmã de Dailor, Crack the Skye, que aqui assume um papel mais relevante nas vozes.
Aproximamo-nos do final depois da parte focada na promoção do disco que servia de pano de fundo aos Mastodon – “Precious Stone”, “Roots Remains” e “Steambreather” arrumaram-no. Num regresso às origens, “Mother Puncher” e a última “March of the Fire Ants” permitiram que Remission se despedisse de Lisboa e fizeram com que Brann se levantasse da bateria e fosse o único a não sair do palco para aceder ao pedido do público, cabendo-lhe a convocatória dos outros membros – porque sair sem “Blood and Thunder” seria quase insultuoso, e ninguém merecia a desfeita.
Fechou-se, assim, uma noite bastante animada em ambos os lados da sala. Saímos para o fresco do Tejo de corpo aquecido e coração cheio, admirando uma banda imparável e consistente no seu estilo, com a promessa de um regresso em breve.
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Organização:Prime Artists & Pev Entertainment
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segunda-feira, 26 junho 2017