Reportagem Mastodon no Coliseu dos Recreios
No passado Domingo, o Coliseu dos Recreios teve a honra de receber os Mastodon, acompanhados pelos Red Fang, naquele que foi o concerto de estreia em nome próprio em Portugal dos Americanos. Há muito que muitos esperavam que este dia chegasse, e, apesar do preço algo exagerado dos bilhetes, certamente muito pouca gente quererá o reembolso. Os Mastodon deram, assim, um concerto para os fãs: longo, energético, poderoso e gratificante, espalhando-se ao longo de menos de duas horas.
Antes de banda principal, coube aos Red Fang a abertura do concerto. Pontuais e presenciando uma sala de espetáculos cheia (à exceção de algumas secções da plateia sentada que se encontravam fechadas), os norte-americanos deram um bom concerto, que serviu de exercício de aquecimento ao que se seguiria. O esforço de estreia, Murder the Mountains (2011), é marcado pelo stoner rock com um pé já no metal, com temas a roçar no rock psicadélico, e sempre com muita energia – algo pelo que o público pedia e chorava por mais. Se os coros “RED FANG! RED FANG!” ecoavam pelo Coliseu dos Recreios, mostrando um público na sua maior parte desconhecedor, mas entusiasmado, a banda norte-americana também teve a sua parte nos elogios à cidade lisboeta – “This town is really cool looking!”. São carismáticos, bons músicos, têm muito pelo facial e deram um óptimo concerto, onde ‘Malverde’ e ‘Wires’ foram alguns dos temas que tiveram mais êxito no público português.
Os Mastodon estão no negócio de “violar” ouvidos, e o negocio está forte: este colectivo é um dos pesos pesados do metal progressivo dos dias que correm e um dos mais competentes e técnicos. Com The Hunter, do ano passado, para apresentar, os norte-americanos não perderam tempo e atiraram-se de cabeça com ‘Dry Bone Valley’ e ‘Black Tongue’, ambas deste esforço, e ambas capazes de agitar a hoste instantaneamente. Apesar de não ser tão articulado e expansivo como o antecedente Crack the Skye (2009), The Hunter demonstra uma maior variedade de influências no estilo musical dos Mastodon, não descaindo a sua qualidade, daí que temas como ‘All the Heavy Lifting’ e ‘Spectrelight’ sejam bem recebidos pelos fãs. Com a capa do novo álbum por trás, e um fantástico trabalho de luzes, o espetáculo grandioso dos norte-americanos conseguiu ser aprovável tanto visual como audivelmente.
Um ponto negativo a apontar foi, claramente, o da qualidade de som. A certo ponto, recordando ‘Capillarian Crest’, o trabalho de guitarras dedilhadas estava tão distorcido que as inúmeras notas musicais a voar do palco quase causavam sobrecarga cognitiva. No entanto, pode-se verificar que a nível técnico de execução, os Mastodon só melhoraram, elogiando-se principalmente o trabalho vocal, que está muito, muito melhor. Tanto o baixista Troy Sanders como o guitarrista Bill Kelliher já conseguem projetar as suas vozes poderosas com maior clareza, algo que os deixa em vantagem.
Não esquecendo que este foi um concerto claramente para os fãs, The Hunter teve grande peso na escolha do alinhamento, mas os Mastodon não descuidaram temas como ‘Colony of Birchmen’, ‘Megalodon’ (que muito entusiasmou e ajudou a criar o inevitável primeiro mosh pit), ‘Sleeping Giant’ e ‘Crack the Skye’. Os eléctricos fãs não deixaram passar a oportunidade e lançaram-se de corpo inteiro numa catarse que dominou todo o concerto – num misto de entusiasmo e admiração.
Já em reta final, a combinação ‘Iron Tusk’, ‘March of the Fire Ants’ e ‘Blood and Thunder’ levou o concerto dos Mastodon a um fim completamente apoteótico. Por fim, ainda sobrou tempo para uma prestação de ‘The Creature Lives’, marcado pela voz do baterista Brann Dailor e a participação dos Red Fang nos coros. Faltou, se calhar, ‘Oblivion’, mas num concerto tão longo e preenchido os fãs não se podem queixar.
Fica para trás um óptimo concerto de estreia em nome próprio dos Mastodon.
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sábado, 20 dezembro 2014