Reportagem Max & Iggor Cavalera no Porto
Max e Iggor Cavalera, os fundadores dos Sepultura, passaram pelo Hard Club para interpretarem os temas de “Roots”, que este ano comemora duas décadas de existência. A digressão, apropriadamente intitulada “Return To Roots” tem como objectivo levar o público a mergulhar no passado e a redescobrir a magia de um dos mais influentes discos de metal dos anos 90.
A natureza do espectáculo é por si só suficiente para nos deixar empolgados, pois “Roots” é uma obra apaixonante e, acima de tudo, inovadora, misturando na perfeição o som pesado dos Sepultura com refrescantes influências tribais, inspiradas pela obsessão do grupo -especialmente por parte de Max – em explorar as raízes da música do seu país, o que os levou até a gravar com uma tribo de índios brasileiros.
Tendo isso em conta, as expectativas eram bem altas e havia curiosidade em saber se iam ser cumpridas. A celebração acabou por correr bem, mas nem tudo foi necessariamente perfeito.
Por um lado, Max continua a ser um frontman extremamente carismático, conseguindo cativar qualquer audiência com uma facilidade impressionante e até invejável. É certo que a adoração do público português pelo artista brasileiro já vem da época áurea da digressão de “Arise”, mas é algo bonito de se ver e que não se desvaneceu.
Contudo, se as qualidades de Max como mestre de cerimónias mantêm-se intactas, a voz perdeu muita da intensidade que a caracterizava e o tom monstruoso de outrora somente em certas alturas se fez sentir. Todavia, Iggor é ainda um excelente baterista capaz de contagiar qualquer um com os seus ritmos possantes, sendo que a restante banda – Johny Chow no baixo e Marc Rizzo na guitarra - revelou-se bastante competente, formando-se assim, apesar de tudo, uma máquina bem oleada.
Seja como for, o que daqui se esperava era uma divertida viagem nostálgica e foi precisamente isso que o grupo tão eficazmente nos proporcionou, tendo sido um prazer recordar hinos incontornáveis como “Roots Bloody Roots”, “Attitude”, “Ratamahatta”, “Straighthate” ou “Spit”, havendo ainda espaço para alguma improvisação dentro das próprias músicas, como o acompanhamento de bateria ao som de “Itsári” (a faixa gravada com a tribo indígena Xavante) ou a jam de percussão em “Ambush”.
Para o encore ficaram reservadas as covers de “Polícia” dos Titãs, “Procreation (of the Wicked)” dos Celtic Frost e “Ace of Spades” dos Motörhead, tendo-se ouvido ainda uma versão punk/hardcore de ”Roots Bloody Roots”. No entanto, por muito bons que estes temas sejam e que se perceba, no caso das covers, a necessidade dos manos Cavalera em prestar tributo às bandas que os influenciaram, lamentamos não terem sido retirados do baú outros clássicos dos Sepultura, como “Refuse/Resist”, “Territory”, “Arise” ou “Inner Self”.
Ainda assim, esta noite permitiu-nos ver em palco duas lendas do metal e da música brasileira e voltar a ouvir grandes músicas que fizeram história - só por isso podemos dizer que valeu a pena. Como escreveu Max, “ These roots will always remain”.
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Organização:Everything is New
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quarta-feira, 09 novembro 2016