Reportagem Meshuggah no Paradise Garage
Dois anos após a passagem pelo festival de Vagos, a esquadra de camiões Volvo conhecida colectivamente como Meshuggah estacionou finalmente em Portugal para dois concertos como cabeça de cartaz.
Pouco tempo para quem vinha suspirando desde a revelação Destroy Erase Improve em 1995, quando o mundo ainda cheirava a flanela, por uma visita deste cilindro sueco. Pequena que fosse, ou mesmo de médico, teria deixado de lagriminha ao canto do olho os fãs de um novo tipo de peso, mais matemático do que progressivo, ainda o fenómeno Djent era uma miragem no horizonte de um lobby metaleiro com olho para o negócio.
Encheu-se assim a sala mais bipolar de Lisboa - já desde a época da Gartejo, onde os moshers saíam ordeiramente para que se inaugurasse a gázada na pista - para sacudir o que restava dos demónios, mesmo a encerrar um mês recheado com concertos de Dragon Force, Fear Factory e Trivium. Bom para quem gosta.
Os Meshuggah são de outro campeonato. Melhor dizendo, nem parecem praticar o mesmo desporto que essas bandas, ou mesmo que o do crescente número de clones que têm vindo a aparecer nos últimos anos. Trazem no depósito o novo combustível, Koloss, mas é precisamente na discografia mais recente que o quinteto marca passo, não conseguindo encostar o público à parede logo de início, como parece ser a sua intenção.
Só recuando no tempo é que os cilindros começam finalmente a afinar-se. Pravus e Combustion, ambas de Obzen, fazem desengonçar o esqueleto da plateia ao sabor de um magnífico espectáculo de luzes, de causar tendinites agudas a qualquer técnico menos experimentado. Breve passagem por Nothing, com Glints Collide, onde Thordendal desce do cimo das suas oito cordas para mostrar que ainda sabe fazer um solo.
Primeira pausa para respirar antes do groove de Lethargica (alguns teriam preferido Neurotica), seguindo-se uma dose dupla de Catch 33, com In Death – Is Life / In Death – Is Death, no que foi o apontamento mais jazzy da noite. Menção honrosa para a sequência Bleed e New Millenium Cyanide Christ, com Kidman finalmente a arengar às massas, depois de uma hora a ensurdecê-las.
Haake, o último cérebro do triunvirato, dizia há dias em entrevista que a banda procurou ao longo dos anos adoptar uma atitude mais simples, mais atenta ao que a música necessita. Basta rebobinar desde Future Breed Machine até ao início do concerto, com Demiurge, para entender tal intenção que divide tanto os devotos como aqueles que nem podem ouvir falar na banda sueca.
Os Meshuggah são um daqueles brinquedos da Chicco em que encaixávamos formas geométricas, mas só queríamos enfiar a estrela dentro do triângulo à martelada. Os Meshuggah são um joyride no carrinho dos Flintstones. Os Meshuggah são uma série de coisas que só eles percebem, mas também não parecem muito interessados em explicar-nos. Quem gosta entenderá, ou não, à sua maneira.
As honras de abertura couberam aos polacos Decapitated, que tiveram a dura tarefa de requentar o público, ainda um pouco perro de estar lá fora a fumar e a beber durante a actuação da primeira banda.
Resta-nos findar com a velha máxima, atribuída a nomes de Zappa a Costello, de que “Escrever sobre música é como dançar sobre arquitectura”. A primeira, já se sabe que é difícil. A segunda depende cada vez mais dos arquitectos.
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Organização:Prime Artists
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sábado, 20 dezembro 2014