Reportagem Metal Day - FIL
Após uma ausência de dois anos dos palcos Lisboetas e respondendo a um convite da FIL no sentido de trazer a música de volta ao centro de exposições, os Moonspell não apresentaram um simples concerto. Decidiram dinamizar o evento, criando o Metal Day at FIL, que aconteceu este Sábado, 23 de Janeiro, entre as 17h30 e as 3 horas. Foi realizada uma conferência sobre “O Metal e a Escrita”, num ambiente muito informal e familiar, que contou com a participação de José Luís Peixoto (escritor), Nélson Santos (colaborador da revista Loud! e jornalista da TSF) e Fernando Ribeiro (vocalista dos Moonspell), entre outros. Após a conferência, foi exibido o filme Global Metal de Sam Dunn que aborda a cultura Metal e a sua génese e diáspora. Antes da conferência e após o filme, o espaço foi preenchido por actuações de Opus Diabolicum, um tributo de cordas a Moonspell composto por quatro violoncelos e percursão. A completar o dia do metal, houve ainda uma exposição de fotografia intitulada 3 First Songs / As 3 Primeiras Canções e bancas de venda de CDs e Vinis, T-Shirts variadas e merchandise de Moonspell.
Às 22 em ponto, um estrondo de frequências exóticas e sequenciadas anuncia a chegada dos Bizarra Locomotiva (BL). A energia foi patente desde o primeiro acorde e o som maquinal, bruto e potente foi garantido desde os primeiros segundos. Não estando a sala cheia, estava bem composta, com um número considerável de pessoas na assistência. Desde cedo se percebeu que embora sendo um espaço muito grande, com tecto alto e muito metal na construção, os técnicos fizeram um trabalho muito bom e o som estava bem definido e com bastante qualidade. Mesmo sem dizer uma única palavra para além das letras dos temas, a interacção com o público foi privilegiada por Rui Sidónio (vocalista) desde o primeiro tema. A parede de guitarra muito orgânica, a cargo de Miguel Fonseca, a bateria seca, concisa e pesada de Rui Berton e as máquinas sempre muito presentes e envolventes, preenchendo todos os espaços livres ao mesmo tempo que constroem o conceito mecânico do som dos BL, controladas por Alpha constroem um suporte consistente à dinâmica e à agressividade vocal do frontman Rui Sidónio, trazendo-nos um espectáculo que, definitivamente, vale a pena conferir, para os amantes do género. De realçar também o bom espectáculo de luzes, sempre bem coordenadas com a interpretação musical.
O espectáculo dos Moonspell tem início em tom épico, conferido pelas vocalizações de Carmen Simões e Sophia Vieira (duas das vozes femininas convidadas para a gravação do último álbum, Night Eternal), a cargo de quem ficaram as backgound vocais de alguns dos temas da noite. Um efeito visual extremamente bem conseguido no ecrã de leds que cobre todo o fundo do palco, as laterais, na vertical e a parte frontal do elevado palanque da bateria. A banda surge em palco enquanto as imagens, de qualidade e definição notáveis, prendem a atenção de toda a assistência.
O colectivo composto por Mike Gaspar (Bateria), Pedro Paixão (Guitarra e Teclados), Ricardo Amorim (Guitarra) e Fernando Ribeiro (Voz), juntamente com Aires Pereira, baixista convidado que tem acompanhado a banda, conduz o espectáculo com grande dinâmica.
Quando se pressente que pouco faltará para o final da actuação, o tema Mephisto traz uma nova surpresa a nível da produção visual envolvida no evento. Enquanto os painéis espalham o fogo por todo o cenário, 8 focos de pirotecnia espalhados pelo palco acendem-se vigorosamente em colunas densas de fogo durante a palavra Mephisto cada vez que ela é repetida. A onda de calor sente-se até ao ponto mais afastado do recinto. No final do tema, sucedem-se explosões de fogo que formam bolas incandescentes ao ritmo acelerado do bombo, deixando o público visivelmente empolgado.
Chega a altura de anunciar o final do concerto. O tema escolhido é o obrigatório, Alma Mater e Fernando Ribeiro pede ao público para fazer valer as palavras que espalhou pelo mundo nos últimos dois anos: “por melhor que seja a resposta do público a Alma Mater, não existe resposta como a de Lisboa”. O público comporta-se à altura, faz verdadeiras as palavras do vocalista e aplaude incansavelmente enquanto a banda se retira. Após alguns minutos de suspense e depois de ser ininterruptamente reclamada a sua presença, os Moonspell regressam para mais uma mão cheia de músicas, entre as quais uma estreia absoluta ao vivo: uma versão acústica de Os Senhores da Guerra, interpretada por Fernando Ribeiro e Ricardo Amorim.
A despedida final ficou, como é hábito, a cargo de Full Moon Madness, faixa do álbum Irreligious, em que Fernando Ribeiro dá uma mão (duas, no caso) a Mike Gaspar, encerrando o concerto com o acentuar violento dos pratos durante os últimos compassos.
Na ausência de última hora de António Freitas, os elementos dos Moonspell assumiram o papel de DJs na aftershow party que durou até às 3 horas.
Em resumo, podemos dizer que foi um evento memorável, tanto a nível de concertos como das restantes actividades organizadas.
Ficaremos a aguardar ansiosamente novas iniciativas do mesmo calibre deste Metal Day at FIL.