Reportagem Mika - Lisboa
Pelas 21h30 do dia 11 de Maio, já metade do Campo Pequeno aguardava impacientemente a entrada de Mika em palco. Depois da fantástica estreia no Super Bock Super Rock em 2008, as expectativas para um espectáculo só seu eram, no mínimo, elevadas. Meia hora antes do dito começar, viam-se comboios na plateia e presenciou-se até uma luta de ovações entre o piso inferior e o auditório. A música de ambiente era de festa e a energia espalhava-se entre todos os presentes. À entrada, todos receberam um coração dourado, cujo verso propunha que este fosse levantado e acenado durante o refrão do single We are Golden. Uma iniciativa da TMN que pretendia surpreender o cantor libanês.
Passava das 22h15 quando as luzes se apagaram. Em palco, entre os instrumentos, via-se um “sub-palco” redondo, cujo chão era uma imagem de crateras da lua. Uma sala com tv estava montada e os membros da banda entraram, encenando uma recriação da primeira viagem à lua. Na tv, bem como noutro círculo pendurado no pano de fundo e em dois ecrãs ao lado do palco, surgiu então Sir Ian McKellen a fazer de jornalista. Contou-nos a história do primeiro civil (Mika) a embarcar num foguete para a lua. O final foi trágico, com um acidente, pelo que os amigos na sala em frente ao televisor a abandonaram. Começou então a entrada de Mika em palco: de luzes baixas, um holofote apontava para o cantor, que surgia pela direita, no ar. Num fato de astronauta, preso por arneses, pairava como que em câmara lenta, até aterrar, de capacete no braço. Despiu metade do fato e revelou um peito pintado a combinar com as caras dos membros da banda e a própria. Desceu por uma porta no sub-palco e a música começou.
"Relax (Take it Easy)" levou a plateia a saltar e bater palmas, enquanto parte das bancadas se levantavam. O público, constituído por pessoas dos 8 aos 80, aclamava a vibração que a música emanava. Os saltos e piruetas de Mika, agora totalmente vestido, faziam as delícias dos fãs (e fotógrafos). "Big Girl (You Are Beautiful)" trouxe ao palco dois pés em salto alto insufláveis, por entre os quais o cantor dançava.
Algumas frases em português quase perfeito, ainda que ditado pelo auricular, foram o deleite dos fãs antes de "Stuck in The Middle". Uma luta de cornetas e sons similares produzidos pelos membros da banda antecedeu "Dr John". Para esta, Mika vestiu um manto colorido e uma cartola. "Blue Eyes" teve direito a papéis esvoaçantes, mas um dos momentos altos estava destinado à apresentação de "Good Gone Girl" – nesta, uma das cantoras mostrou os seus dotes musicais ao interpretar um excerto de ópera de Mozart perfeitamente afinado. "Billy Brown", em jeito de ode à homossexualidade, manteve os neónes a aparecer em palco, com uma bandeira rosa-choque e amarela gigante hasteada. Já "Touches You" teve direito a uma cabeça de dragão chinês, antes do tom do concerto acalmar. Seguiram-se "Over My Shoulder" e "I See You", tendo Mika passeado e acenado um guarda-chuva coberto de papéis prateados durante a segunda.
Eis então que a surpresa é estragada durante "Rain". Antes desta, ouviu-se um breve excerto de "We Are Golden", enquanto Mika descia pela porta do palco inclinado a fim de mudar de roupa. Embora a música já tivesse começado – e não fosse, claramento, o single – o cantor subiu para encontrar um Campo Pequeno (praticamente) cheio de corações dourados a acenar. Agora era tarde demais, já que Mika, após a música, pediu um – «What is this?» – que foi colocar no cabelo de uma das cantoras. De seguida, assistiu-se ao mais recente e animado single "Blame it on the Girls", antes da apresentação da banda. Sempre animado, Mika provocou a pequena baterista, que mal se via no meio de pratos e tambores. O público português voltou a ser alvo de elogios pela sua energia e boa-disposição. A mudança da data do concerto, devido à actividade do vulcão Eyjafjallajokul, fez com que esta se tornasse na última data da tour. Coube aos fãs nacionais tornarem-na memorável para a banda.
Após "Happy Ending", uma procissão fúnebre entrou em cena, enquanto o sub-palco se enchia de cruzes e uma árvore com pássaros e corações saía pela pequena porta. "Love Today" começa e a energia volta a inundar de calor o espaço frio do Campo Pequeno. Antes do refrão final, Mika, com a mão a formar uma pistola imaginária, matou a banda e depois cometeu suicídio. De luzes apagadas, ouviu-se a sua voz, a falar-nos da “outra vida”, pedindo a todos que, ao contar de três, começassem a saltar sem parar. Assim foi, durante o refrão deste antigo single.
E eis que o momento certo chega – "We Are Golden" encheu de novo o ar de corações dourados, antes da saída do músico para encore. De volta, trazia consigo uma marioneta, «feia e que não sabe fazer nada», que colocou em cima do piano. Tocou "Toy Boy" antes da esperada "Grace Kelly", que provou que os seus agudos estão vivos e de boa saúde. "Lollipop", depois de o cantor anunciar o seu regresso para actuar no festival Sudoeste, marcou o fim do concerto, enquanto choviam balões gigantes pelas bancadas até à plateia e ao palco. Serpentinas e papéis dourados voavam e a banda em peso, figurantes incluídos, juntaram-se em palco para os agradecimentos finais.
A festa, contudo, ainda não estava no final. Ao som de "Kick Ass (We Are Young)", uma colaboração entre Mika e RedOne, o músico saiu de palco, deixando a equipa a dançar. Um fim em festa para um concerto que tinha começado da mesma maneira.
Ainda que as suas letras falem de experiências próprias e abordem temas variados, tanto em seriedade como emoção, Mika utiliza a cor para embelezar o cenário. Não pondo totalmente de parte uma faceta mais obscura (as vezes em que pistolas falsas e imaginárias surgiram talvez tenham sido demais), o cantor deixa que a alegria flua nos seus temas, contagiantes e bem-dispostos. A vontade de dançar ao som das músicas, mesmo as mais calmas, não passa ao lado de ninguém.
Em estreia num espectáculo só seu em território nacional, o cantor libanês não desiludiu e trouxe um espectáculo de néones e brilhantes que encheu os olhos do público sedento. A boa disposição reinou no Campo Pequeno, que se cobriu de ouro numa noite marcada pelo mesmo tom.