Reportagem Miles Kane
Miles Kane a solo pode suscitar algumas interrogações quando se o referencia espontaneamente e em tom de conversa. A associação directa ao projecto que partilha com Alex Turner dos Arctic Monkeys, The Last Shadow Puppets, é quase imediata, que ainda adiciona o seu projecto principal, que para alguns passa despercebido, os The Rascals.
Apresentou-se novamente aos portugueses em dose dupla e o TMN ao Vivo foi o palco escolhido na capital para revistar Colour of The Trap, editado em 2011, e apresentar o recém-chegado Don’t Forget About Who You Are. Os presentes, apesar de poucos foram suficientes para fazer que a noite valesse a pena.
Ainda antes de o britânico entrar em palco, os setubalenses The Doups tiveram o privilégio de acompanhar Miles Kane nas duas datas. Já não são desconhecidos ao grande público da área metropolitana de Lisboa, mas não têm nada de novo a acrescentar ao espetáculo ao vivo sem ser o novo single “Born Again”. São bons entertainers mas não são grandes inovadores na sonoridade, que tende a reciclar-se música após música.
Miles Kane, entra pouco depois da 22h00, para ser recebido por uma plateia excitada ao extremo, que o idolatra como se fosse o Adónis do indie-rock. Infelizmente, esse papel ainda está em disputa entre Pete Doherty dos Babyshambles e Alex Turner, colega de Kane e frontman dos Arctic Monkeys, não deixando margem para Miles entrar em competição.
Não tem mal, Kane brilha à sua maneira e tem a sua legião devota. Entra glorioso com "You’re Gonna Get It", uma das faixas mais sonantes do novo trabalho. Apesar de ágil e eficiente na sua profissão, a performance ao vivo ganha proporções narcisistas demasiado grandes para nos conseguirmos abstrair dela. Fazendo ou não parte da persona que Miles Kane é, até lhe damos o desconto e até fica bem.
Não se inibe a puxar pelo público, ou a explicar porque é que é tão “cool” e conseguiu, sem qualquer tipo de problema, captar durante uma hora e um quarto a atenção da plateia que mal ousou retirar os olhos de todo o aparato em palco. Houve tempo também para intercalar "Give Up" com "Sympathy For The Devil" dos The Rolling Stones, colmatando logo de seguida com "Darkness in Our Hearts".
"Don’t Forget About Who You Are" já é uma frase que estamos muito habituados a ler e a proferir em momentos de motivação pessoal e Miles Kane fez questão de a transpor para música que encerra (e muito bem) a primeira parte. Seguia-se o encore
E se com dois álbuns o concerto foi consistente e equilibrado, para terminar em beleza "Colour of The Trap" abre e "Come Closer", que levou Kane a quase ser devorado pelo público, termina um concerto que tornou o serão menos banal, fazendo dele uma noite bem passada com o melhor que o indie-rock britânico, com o alvará da New Musical Express, cá entre nós NME, tem para oferecer. E se é actual e fresco que o povo quer, é isso que o povo recebe.
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sábado, 20 dezembro 2014