Reportagem Miley Cyrus em Portugal
Numa das noites mais quentes deste ano, no passado dia 14 de Junho, Miley Cyrus passou pelo MEO Arena, muito longe de completo, estando parte do recinto vedado, para mostrar aos portugueses de que é feita a controversa Bangerz tour.
Vamos desmistificar: Não é, de todo, o que estamos à espera. Entre bailarinos de todos os tamanhos e cores (literalmente) e línguas que são escorregas, bem como carros, cachorros quentes voadores, muito bling, swag, disclaimers que advertem para polémicas e ordinarices da cantora, foguetes, sexualização, línguas de fora e chuvas abundantes de dinheiro como o caso de “Love Money Party”, Miley não deixa de fora a criança que ainda existe dentro dela, estando nas suas projeções múltiplas histórias com desenhos animados, porém cobertos de innuendos e deixados à interpretação de cada um.
Contudo, esta noite não deixava de ser especial porque foi a data escolhida para ser gravado o DVD de Bangerz tour, que de certa forma prejudicou todo o desenrolar do concerto, chegando ao ponto de maçador, por exemplo, nas repetições de “#GETITRIGHT” e “On My Own”.
Cyrus tem voz mas, para já, pouco trabalho para mostrar. Com um alinhamento centrado em Bangerz, o seu terceiro álbum já liberta de Hannah Montana, a personagem que a tornou famosa, intercalou-o com covers de uma panóplia de artistas, contemplando The Beatles e “Lucy In The Sky With Diamonds” gravada com os The Flaming Lips, Bob Dylan com “You're Gonna Make Me Lonesome When You Go”, “There’s A Light That Never Goes Out” dos The Smiths, que devido a uma (clara) diferença de idades não se ouviu muito alarido. Porém, foram versões da clássica “Jolene” da madrinha Dolly Parton, “Summertime Sadness” de Lana Del Rey ou uma “Hey Ya” dos Outkast extremamente irreconhecível e sem grandes abanos, que levaram a arena lisboeta ao rubro.
Um público predominantemente jovem e separado de pais que optaram por um lugar nas sombras do recinto, Miley agrada a miúdos e graúdos, apesar de não ser suficiente para esgotar grandes arenas, como o caso português, que arrastou aproximadamente 14.000 pessoas ao Oriente ou 12.000 ao Palau Saint Jordi em Barcelona.
No entanto, uma coisa temos que louvar em Miley Cyrus: a capacidade de gozar consigo mesma e uma voz eficaz, que de certa forma, se perde neste tipo de registo.
Percebe-se aqui, então, o trabalho da imprensa em promover uma tournée como polémica e escandalosa, quando na realidade não passa de uma espécie de brincadeira narcisista de Destiny Hope Cyrus com os seus amigos e fãs, onde insiste em se despedir de um passado inocente e se afirmar na selva da indústria musical através de uma via fácil, tendo a sua atitude e o novo álbum a colocado num patamar de destaque nunca pelas melhores razões.
Para o fim, geralmente, fica reservado o melhor e são os três singles mais importantes da carreira de Miley que são extravasados. “We Can’t Stop” colorida e com direito a animais dançantes, uma “Wrecking Ball” emotiva e por fim, num segundo encore, “Party In The USA” a mais divertida canção de Cyrus, que faz questão de homenagear as suas origens e trazer o Mount Rushmore e a Estátua da Liberdade aos palcos da MEO Arena, despedindo-se com uma chuva (mais uma) de confettis em tons de vermelho, azul e branco.
Foi um concerto que esteve à altura do prometido? Não, pois saímos com um vazio e uma desilusão nos rostos, mas damos o benefícios da dúvida a Miley enquanto entertainer, que é certamente uma capacidade que circula no sangue da família Cyrus.
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sábado, 20 dezembro 2014