Reportagem Milky Chance em Lisboa
Não é preciso recuar muito atrás no tempo para nos recordarmos do Verão de 2013 e como “Stolen Dance”, single dos alemães Milky Chance, marcou a estação mais calorosa do ano, tornando-se numa das músicas mais emblemáticas desse mesmo ano. Com uma sonoridade simples, mas com o seu quê de empolgante e cativante, “Stolen Dance” invadiu as rádios e os tops de toda a Europa, algo incrível tendo em conta que se tratava da primeira canção dos Milky Chance.
Com o passar dos anos, o projeto chefiado por Clemens Rehbein não tomou o repentino sucesso dos Milky Chance como garantido e continuaram a lançar canções, de mediatismo modesto, atrás de canções, embora nenhuma tenha alcançado o sucesso de “Stolen Dance”. Todavia, e talvez assombrados pela possibilidade de serem vistos como uma simples ‘one hit wonder band’, os Milky Chance lá que foram mantendo uma vasta legião de fãs, ganhando mais uns quantos o ano passado com o lançamento do segundo disco de originais, Blossom.
Numa noite severamente afetada pela chuva, os fãs de Milky Chance não se deixaram afugentar pela mesma e preencheram a sala de concertos do LX Factory em peso, com principal destaque para a elevada afluência de público estrangeiro; subitamente, o frio que se verificava por Lisboa dissipara-se por completo.
De forma quase irónica, os Milky Chance arrancariam o concerto ao som de “Clouds”, numa tentativa de abstrair os seus fãs do tempo que se fazia sentir lá fora e concentrarem-se na principal forma de calor da noite: o tripleto alemão. Esse mesmo calor ia lentamente entranhar-se pelo público que, com o passar das primeiras canções, como “Ego” e “Blossom”, ia devolvendo a energia contagiante com que Clemen Rehbein contagiava o público português que, quando ouve os primeiros acordes de “Firebird”, desprende-se por inteiro e encadeia a sala num espírito festivo.
Apesar de o alinhamento do concerto ter apostado em Blossom como principal destaque – apenas a meio é que se começou a recuar aos tempos de Sadnecessary ao som de “Flashed Junk Mind” – é impossível de não frisar a forma como o público que marcava presença nas linhas da frente tinha praticamente quase todos os versos decorados na ponta da língua destes temas mais recentes, algo que visivelmente agradava a banda.
Clemens Rehbein, Antonio Greger e Philipp Dausch, que contavam com o auxílio de um baterista para esta tournée, apresentaram um espetáculo simples mas eficaz, coeso e, acima de tudo, muito participativo com o público, transparecendo a ideia de que o próprio era uma parte fulcral do concerto – claro que os portugueses não pecaram neste aspeto, como é tradição. De realçar, ainda, o majestoso jogo de luzes proporcionado por quatro círculos de lâmpadas strobe em que todas estavam sincronizadas para com os acordes de cada canção, facilitando o processo de imersão nos temas.
Num ambiente de alegria do início ao fim, cimentado por canções como “Down By The River”, “Fairytale” e a terminal “Cocoon”, os Milky Chance demonstraram terem muito mais material na bagagem do que “Stolen Dance”, conseguindo cativar e entreter um público que certamente sairia satisfeito do LX Factory com uma boa hora e meia de concerto.
Como o melhor fica sempre reservado para o fim, os Milky Chance voltaram a palco sobre uma calorosa chuva (de palmas) enquanto pedidos para “Stolen Dance” eram entoados pela grande maioria da sala. Entre palavras de agradecimento e de apreço, ou não fosse a noite de dia 7 marcada pelo término da tournée europeia, os Milky Chance lá que fizeram a vontade ao público e brindaram-no com a dita ‘toca aquela’, fechando com chave de ouro um concerto que veio provar que os Milky Chance são dos melhores produtos musicais que a Alemanha exportou nos últimos tempos e, certamente, ainda têm muito mais para nos mostrar.
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segunda-feira, 12 março 2018