Reportagem Mono no Paradise Garage
Depois de uma passagem por cá em 2010, foi a vez dos japoneses Mono nos apresentarem “For My Parents” e tudo aquilo que acontece por trás dos seus instrumentos. Não fosse uma fria e chuvosa noite na capital, ninguém assumiria que se tratava de uma sexta-feira tendo em conta as poucas pessoas que compunham a sala por volta da hora estipulada para o início do evento.
Para a primeira parte, Dirk Serries trouxe-nos o seu projecto a solo, Microphonics, à boleia da sua presença singular e da sua guitarra. Ainda que a intensidade fosse subindo à medida que o músico incorporava o seu ebow (e o público fosse finalmente compondo o Paradise Garage), a sua meia hora de foco pode ter deixado algumas boas impressões em discernimento das dificuldades em conseguir reconhecer as melodias em torno do seu improviso em palco. Rodeado pelos seus pedais e amplificação, foi com a maior das calmas que o próprio Dirk se fez crescer para testar os baixos das colunas da sala.
Ainda pouco das 22h00, foi sem grande cerimónia que Mono subiram ao palco e tomaram as suas posições para o seu ritual de levitação em massa. Os presentes dificilmente escaparam aos tentáculos que compunham os crescendos emotivos, com uma dualidade de efeitos que tanto se magnificavam e abafavam os tímpanos como nos poderiam tentar o lacrimejar involuntário. Existe essa capacidade (quase) ímpar nas suas composições e, sem dúvida, resulta com maior eficácia se estivermos particularmente focados na dupla de guitarras que se alternavam e compensavam para um som harmonioso e transcendente. Momentos como os que soaram em ‘Pure As Snow (Trails Of The Winter Storm)’ são daqueles que fazem valer o preço do bilhete, mas foi na recta final que o concerto tomou especiais proporções e que o som em geral se superou, embora um jogo de luzes mais forte e presença de fumo pudessem dar um significado ainda maior ao espectáculo em si.
Se é pós-rock aquilo que é criado pelas mãos de Yoda, Takada, Kunishi e Goto? É algo que não se confirma sem torcer o nariz. Existe uma certa espiritualidade com raízes nipónicas que dá uma leve sensação que a sua musicalidade ultrapassa os limites dos rótulos. Enquanto assim for, o público continuará a ser levitado e transportado para locais nunca antes atingidos. Só uma força divina explicaria a força com que o peito bate ao som de Mono.
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sábado, 20 dezembro 2014