Reportagem Monotonix - Hard Club
A noite de 26 de Fevereiro era bastante concorrida na cidade do Porto: para além do habitual Clubbing na Casa da Música, com a presença de Peter Hook (baixista de Joy Division); e da actuação dos norte-americanos Tyvek no Armazém do Chá; havia ainda um concerto por cima do público, no Hard Club. Sim, não é engano: ao contrário de outras bandas, que dão concertos em cima do palco, os Monotonix preferem tocar (literalmente) em cima do público. E é, provávelmente, mais o espectáculo que estes israelitas proporcionam, do que a própria música que tocam, que levou nesta noite muita gente a preferir o Hard Club a outras salas de espectáculos no Porto. Muitos devem lá ter ido matar, na medida do possível, as saudades do Milhões de Festa – lembre-se que as três bandas presentes neste evento fizeram parte do cartaz do festival Milhões de Festa 2010, sendo a actuação dos Monotonix unânimemente considerada uma das melhores de todo o festival. Outros vieram vê-los, com certeza, porque já ouviram por aí falar daquilo que estes loucos são capazes!
Os primeiros a subir ao palco foram os Larkin. Este quinteto de hardcore do extremo norte do país aproveitou para vir mostrar o seu mais recente trabalho de estúdio, aquecendo o público para o que viria mais tarde. O público mostrava-se ainda pouco ou nada efusivo, apesar do esforço e da boa actuação destes cinco rapazes de Viana do Castelo.
Os The Glockenwise, que se seguiram, lá conseguiram mais alguma empatia com o público do Hard Club. Nuno, Fiusa, Rafa e Cris vieram de Barcelos cheios de atitude e energia, trazendo para mostrar “Building Waves”, primeiro álbum destes quatro rapazes, recentemente editado pela Lovers & Lollypops.
Após a actuação das duas bandas portuguesas, era tempo para um pequeno intervalo, a fim de preparar a sala para o arraial de garage rock israelita que se adivinhava. Enquanto que do lado de fora se dava dois dedos de conversa e se fumava o cigarrinho, lá dentro preparava-se o concerto dos Monotonix que, de monótono, só têm a semelhança de nome. Amplificadores em cima do palco, bateria e guitarra no chão: a ideia é a de tocar no meio do público. Não faltou muito até que alguns curiosos se fossem aproximando, sentando-se a observar a montagem antes do início da actuação. E eis que surgem Ami Shalev, Yonatan Gat e Haggai Fershtman, o trio de Telavive que compõe a banda mais esperada da noite.
Ami Shalev, vocalista, dá início ao concerto mais caótico que consigam imaginar, começando por atirar água para cima do público. Os três senhores peludos do país mais judeu do mundo foram-se passeando pelo meio e por cima do público, enquanto tocavam temas de “Body Language”, “Where Were You When It Happened?” e o novíssimo “Not Yet”. O público, esse, esforçava-se por vê-los mais de perto, andando durante todo o concerto de um lado para o outro, numa tentativa de acompanhar uma “fila da frente” que muda permanentemente de sítio. Alguns tinham mesmo de pegar, ora nos membros da banda, ora na tarola da bateria que, nas actuações dos Monotonix é elevada acima das cabeças da assistência e tocada por Ami Shalev.
Depois de experimentar uma peruca rosa-choque de um membro do público e de uma breve passagem pelo balcão do bar do Hard Club, coberto de álcool e cascas de laranja, Shalev dá por terminado o espectáculo com uma pequena demostração de empilhamento de peças de bateria e posterior desempilhamento por arremeso de banco.
Esta terá sido, infelizmente, uma das derradeiras e últimas oportunidades de ver Monotonix ao vivo. Diz-se por aí que os membros da banda pretendem dar mais atenção à família, em detrimento de prestações incríveis e suadas como a que se pôde assistir (e sentir) nesta noite.