Reportagem Mumford & Sons em Lisboa
Uma hora antes do início do espetáculo esgotadissimo, eram muitas as almas que aguardavam nas imediações do Coliseu a abertura das portas daquela mítica sala lisboeta. Assim que foi possível entrar, começou-se a ouvir variados gritos de histeria por parte daqueles que tinham comprado bilhete, numa faixa etária situada entre os 16 e os 25 anos, dizemos nós. Se nesta altura já era assim, nem queríamos imaginar quando a banda começasse a tocar.
O primeiro a subir ao palco foi Jesse Quin, baixista da banda Keane, que aqui atuou a solo. Na sua atuação, o multi-instrumentalista aproveitou para agradecer aos Mumford & Sons pela oportunidade de os acompanhar na digressão, enquanto nos mostrava os seus temas folk, num ambiente calmo e suave. O ponto alto da sua performance foi o último tema, o bonito “Show Them All”, que contou com a participação de um violinista. Perante os gritos da assistência, podemos dizer que o britânico conquistou alguns adeptos.
Seguiu-se Deap Valley, dupla feminina de Los Angeles formada por Lindsey Troy na voz e guitarra, e por Julie Edwards na bateria. Este duo aposta num rock esganiçado e algo descontrolado, que por vezes nos trazem à memória os extintos The White Stripes. As meninas, que se apresentaram ao público de calções de modo a mostrar as suas pernas, podem ser apenas duas, mas têm muito mais eletricidade a correr no sangue que muitas bandas de rock que por aí andam. Os pontos fortes do concerto foram precisamente quando três elementos dos Mumford & Sons apareceram em palco: primeiro Winston Marshall a transpirar rock no banjo como nunca se tinha visto, Ben Lovett a dar uma ajuda nas teclas e Ted Wayne, no baixo. Esta foi uma interpretação que pode ter causado alguma perplexidade nos milhares de portugueses presentes, dada a simplicidade do artista anterior, mas serviu para deixar bem quente e desperto um público que ansiava pelos protagonistas da noite.
Minutos depois da interpretação de rock por parte das Deap Valley, as luzes apagavam-se. Era agora, 23h00, o momento pelo qual todos esperavam. Berros estridentes ecoaram pelo Coliseu, no qual entravam em cena os Mumford & Sons. A banda liderada por Marcus Mumford arranca com “Babel”, faixa-título do segundo e mais recente álbum de estúdio, que serviu de pretexto a esta digressão. “Como estão?”, pergunta o vocalista, num português bem esforçadinho, que serve de abertura ao belíssimo “The Cave”, retirado de Sigh No More, editado em 2009.
Segue-se o contagiante “Whispers in the Dark” e “White Blank Page” e a esta altura já percebíamos que os Mumford & Sons iam balançando entre temas ora do primeiro álbum, ora do segundo álbum, onde uns apelavam à concentração e ao sentimento e outros pediam festa da rija. O público não desiludia e cumpria o que era pedido. A festa era muita, os pulos imensos, os berros não paravam. Impressionante ver como todas as letras estavam na ponta da língua de quem assistia ao concerto, deixando sorrisos de felicidade nas faces dos ingleses.
Ao vivo, a banda de folk rock ganha mais energia do que nunca. São generosos, autênticos, orgânicos e fazem de uma sonoridade mais tradicional uma vivacidade que não é muito comum de ser vista. Depois de “Holland Road”, o teclista Ben Lovett diz-nos que “esta é uma das salas mais bonitas em que já tocamos” antes de soltarem as primeiras notas de “Timshel”, onde os quatro elementos da banda se encontravam eu pura sintonia.
O simpático vocalista Marcus Mumford esforça-se para deixar um certo à vontade entre si e o público, e aproveita para treinar o seu português perguntado “Como é que vocês dizem fiesta?”, ao que o público exclama “ festa! Festa!”, rematando o vocalista “Querem siesta?”, tornando este um dos momentos de riso geral em toda a sala, antes do conjunto de lâmpadas penduradas ao longo do teto do Coliseu se aceder, no momento em que se ouvia um dos hinos da banda, “Little Lion Man”, muito festejado e aplaudido.
Em “Lover of the Light”, Marcus Mumford salta para a bateria, mostrando que não é homem de um instrumento só, tema em que Winston Marshall dá nas vistas com uma dança esquisita. Depois de um “Thistle & Weeds” suportado por um jogo de luzes em tons de vermelho, o público diz ao quarteto que os ama, soltando um forte “We love you!” que é correspondido pelo vocalista, falando em nome da banda claro está, onde nos conta que “é engraçado que digam isso, porque vocês conhecem-nos melhor que nós a vocês, por isso acho que podemos dizer que também vos amamos. E não dizemos isto a qualquer público, isso é algo que a Rihanna faz.”
Escutou-se “Ghosts That We Knew”, um “Awake My Soul” cantado a plenos pulmões, e em “Roll Away Your Stone” o teclista Ben Lovett convida o público lá de cima a descerem até à plateia, mas estes não se sentiram muito encorajados. Quase em jeito de despedida, “Dust Bowl Dance” leva os britânicos à loucura, havendo até uma guitarra partida, cortesia de Winston Marshall, que atirou o instrumento ao ar e ainda a bateria ligeiramente destruída.
Regressados para um curto mas intenso encore, os Mumford & Sons convidam Jesse Quin e as Deap Vally para se juntarem a eles em palco, num espetáculo que seria o último desta digressão conjunta. Quin sobe para a bateria, as meninas ajudam no que é preciso e todos interpretam uma cover de Marvin Gaye, “Baby Don’t You Do It”. Quase no fim, ecoa pelo Coliseu a estrondosa “Winter Winds” e, prometendo uma nova visita ao nosso país, o concerto termina com a esperada e celebrada “I Will Wait”.
Num concerto que demorou sensivelmente uma hora e meia, os Mumford & Sons esforçaram-se para deixar o melhor de si a um público jovem que nunca arredou pé.
Nós por cá, esperamos pelo regresso porque, enquanto eles continuarem a existir, saberemos onde nos dirigir para um período de festa.
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Organização:Everything is New
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sábado, 20 dezembro 2014