Reportagem Muse @ Pavilhão Atlântico
Depois da passagem pelo Rock in Rio que contou com muitos fãs, os Muse vieram esgotar o Pavilhão Atlântico em nome próprio e com todos os seus brinquedos. Ainda antes de começar o concerto da banda de abertura, já podíamos contemplar três prédios feitos de pano sobre um palco redondo e mais pequeno do que aquele a que o Pavilhão Atlântico está habituado, fanzedo adivinhar muitas surpresas para o concerto de apresentação do seu novo álbum, The Resistance.
De álbum novo na bagagem vinham também os Biffy Clyro. Após a passagem por Paredes de Coura do ano passado, entraram em palco e mostraram o porquê de terem cancelado o concerto marcado para 12 de Dezembro deste ano: é demasiada energia para um espaço tão curto de tempo. Simon Neil entra em palco de tronco nu e agarra na guitarra para dar início ao que se viria a revelar um espectáculo de cordas a apresentar Only Revolutions. Avançam com a explosiva “That Golden Rule” que conseguiu arrancar alguma energia do público que aguardava pela banda da noite. Se por um lado Dom se viria a referir a Portugal como o melhor público da tour, os Biffy Clyro com certeza viajam para a próxima paragem com uma opinião diferente. “Living is a problem ‘cause everything dies” e “Who’s got a match? “ de álbuns anteriores não pareciam causar impacto apesar de Simon arranhar furiosamente a guitarra. As novas “Bubbles”, “The Captain” e “God and Satan” causavam igual reacção. Um público apático ia preenchendo o que restava da sala, engolindo grades, a mesa de merchandising, e os outros quase ignorando o abuso que se passava no pequeno palco. “Glitter and Trauma”, no entanto, pareceu agitar as massas. Infinity Land aparentou ser um álbum mais “comestível” que o recém lançado Only Revolutions. Despedem-se com “Mountains”, num português não tão desajeitado como o da maioria e que não mostrava ressentimentos pela quietude dos lusitanos.
Ao intervalo, era já impossível penetrar a imensa multidão que desde cedo se ia aglomerando no Pavilhão Atlântico. As luzes ainda não estavam apagadas e enquanto o público se entretinha a fazer “ondas” que moveram balcões e plateia, dentro dos prédios viam-se pequenas luzes verdes. Eles estavam lá dentro, já tínhamos percebido.
Começam a surgir silhuetas brancas que subiam e desciam escadas projectadas. Com um cair repentino do pano, Matt Bellamy usa um CD para projectar lasers para o público que se encontrava literalmente a seus pés. Ouve-se “Uprising” acompanhada de letra delineada na plataforma do baterista Dominic Howard. O público gritava em histeria, acompanhando os agudos da guitarra de Bellamy enquanto se via projectada audiência e banda nos paralelepípedos gigantes que sobrevoavam os músicos. Um começo surpreendentemente bom, para as considerações que se têm feito acerca do The Resistance. E na onda de novidade continuam com “Resistance”, transformados em “bit” por cima das suas próprias cabeças, até começarem a descer das plataformas para “New Born” que exigia deslizes pelo chão brilhante e lasers que enchiam o Pavilhão de estrelas verdes.
O público parecia diferente do que tinha assistido ao concerto de abertura. Não havia ninguém que não saltasse e não gritasse. O mesmo durante “Map of the Problematique” e “Supermassive Black Hole”, os clássicos pareciam despertar os fãs que voltaram a acalmar por momentos durante “MK Ultra”. O novo The Resistance não é tão cativante como nenhum dos álbuns anteriores e o público parecia algo descontente e aborrecido durante as músicas saídas do álbum-novidade. Servia, no entanto, de descanso.
“Hysteria” foi isso mesmo - durante a música, e durante o deslizar do piano para a plataforma que iria voltar a subir para “United States of Eurasia”. Viam-se projecções de mapas enquanto Matt exibia os seus dotes nas teclas e seguiu-se “Feeling Good”, que encerrava o recital de piano por hoje. Enquanto Bellamy trocava de equipamento, Dominic e Christopher faziam-se rodar e subir na plataforma central, para “Helsinki Jam” que levou o público ao rubro. Mas mais uma vez a acalmia abateu-se logo de seguida com “Undisclosed Desires”. Em “Starlight” e “Plug in Baby”, Matt deixou que fossem os portugueses a cantar numa união arrepiante. Nesta última entram os já típicos balões brancos que fazem chover papéis por cima dos portugueses. Os gritos não param com os primeiros acordes de “Time is Running Out” e com “Unnatural Selection”. Era o sprint final, a noite já ia longa.
Os três saem do palco, os ajustes do costume são feitos, e voltam para o derradeiro final, iniciado com “Exogenesis: Symphony, Part 1” que encerrava a mostra do álbum homónimo da tour. “Stockholm Syndrome” e “Knights of Cydonia” foram as músicas escolhidas para a despedida. Acabou como começou – com um estoiro de som, com gritos e algumas lágrimas.
De épico, teve tudo. Desaparecem por entre o fumo, um adeus até ao próximo ano e com grandes agradecimentos do baterista, que afirmou sermos o melhor público da tour.