Reportagem Ney Matogrosso
Foi acolhido, num Coliseu lotado, um dos artistas brasileiros de maior renome e alvo de maior admiração e de carinho em Portugal. Ney Matogrosso, a apresentar o seu novo esforço, “Beijo Bandido”, deslocou as massas lisboetas para a primeira de duas noites na capital lusa. Coube-nos o primeiro acto.
Animal de palco com um carisma irreverente, Matogrosso apresentou um espectáculo menos exuberante do que as expectativas ditavam, mas bem mais intimista e sensual. No entanto, mesmo sem lhe faltar público, não se pôde deixar de achar que este foi um concerto morno e também demasiado curto, sem grandes momentos para recordar.
Começa “Tango pra Tereza” a marcar o passo e Ney passeia-se pelo palco, confortável na sua pele e no ambiente intimista da sala de espectáculos. O set e a roupa sóbria mostra um lado mais introvertido do artista, talvez depois da exuberância roqueira de “Inclassificáveis”, um regresso às origens dos Secos e Molhados. É provocador, ameaçando tirar a roupa, mas é também inconfundível, e a sua voz preenche toda a área em “Sedução” e “Fascinação”, mais conhecida pela interpretação de Elis Regina — claramente os pontos altos da noite.
Com um convidado especial na manga, entra Seguidamente, um pouco por culpa das baladas consecutivas e da contenção de um público que, apesar de atencioso, era mais velho, o espectáculo seguiu um rumo um pouco desinteressante, quase embalando os que assistiam. Ney pouco falou e pouco dançou, no entanto, é admirável que com 68 anos ainda se mantenha no activo e com a qualidade que retém.
Ao fechar da cortina, ouviam-se os lamentos de algumas fãs com a falta de um “Homem com H” ou “Rosa de Hiroshima”, tal como com a duração reduzida do concerto.