Reportagem No Age no Porto
Agora que o Verão está prestes a terminar e a época de festivais constitui já uma memória de um passado recente, o ciclo de concertos em nome próprio volta em força. Na passada quarta-feira, a Revolve proporcionou o retorno ao nosso país dos norte-americanos No Age, que este ano lançaram o quinto disco de originais “Snares like a Haircut”.
Oriundos da cena que se formou em torno do mítico clube The Smell, editaram um conjunto de álbuns através da conceituada Sub Pop que os estabeleceram como uma das mais consistentes e dinâmicas bandas a emergir do underground de Los Angeles. Contudo, poucos foram os que se deslocaram ao Hard Club nesta noite de Setembro, talvez devido à ressaca da temporada festivaleira, por haver outro concerto a decorrer noutra sala portuense próxima desta, ou mesmo pelo facto de os No Age terem passado cinco anos afastados das lides discográficas e entrado num período de relativa obscuridade. Seja qual for o motivo, a verdade é que o grupo pouco importado parecia com a sala despida, tendo dado tudo o que tinha de modo a que ninguém presente se arrependesse dessa decisão - afinal, são um produto da ética DIY, pelo que seguem o código da paixão, suor e perseverança perante qualquer adversidade.
Possivelmente motivado pelo clima intimista que inevitavelmente se instalou, o baterista/vocalista Dean Allen Spunt adoptou um registo bastante descontraído ao falar com a audiência, tratando-a como se fosse um grupo de amigos e o concerto um ensaio aberto. As barreiras hierárquicas que separam banda e público foram imediatamente destruídas, estando assim todos ao mesmo nível, e será seguro afirmar que era esse o objectivo do afável músico. Afinal, por muitos sítios que já tenham visitado desde então, as memórias dos tempos passados no The Smell ocupam um lugar especial no coração do duo, pelo que essa atmosfera de proximidade é algo que, imaginamos nós, tentam sempre recriar quando possível.
Foi então nesse ambiente familiar que assistimos a uma actuação onde a garra do punk conviveu com camadas de noise, e onde as sensações que desse confronto nasceram revestiram-se de um fascinante contraste: energia vs. introspecção, ruído vs. melodia, experimentalismo vs. acessibilidade. No entanto, mantiveram sempre o interesse bem elevado, estivessem a apresentar novidades como “Send Me” e “ Stuck in the Changer” ou a recordar malhas incontornáveis como “ Fever Dreaming”.
Verdade seja dita, essa coesão é admirável, mas também o fruto do tempo passado na estrada e da amizade de longa data entre Dean Allen Spunt e o guitarrista Randy Randall. Começaram esta aventura juntos, e nela permanecem todos estes anos depois, protagonizando actuações apaixonadas e de sentimento underground como esta que nesta noite testemunhamos. Quando tudo acabou, saímos da sala plenamente satisfeitos e de coração cheio. Foi mesmo do caraças.
Na primeira parte, os El Señor assinaram uma sessão de surf rock minimamente competente, mas mais agradável do que propriamente memorável.
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quarta-feira, 19 setembro 2018