Reportagem Nocturnal Emissions no Porto

O Understage, localizado no Rivoli, tem-se afirmado cada vez mais como um espaço crucial no circuito de concertos underground, abrindo as suas portas a algumas das propostas mais arrojadas que o movimento tem para oferecer.

Na passada sexta-feira, essa tendência continuou com a estreia em Portugal do projecto Nocturnal Emissions. Outrora uma banda, rapidamente granjearam um estatuto de culto ao lado de nomes como Throbbing Gristle, Nurse With Wound ou Coil, funcionado há bastante tempo como um meio de expressão para Nigel Ayers.

Nigel foi precisamente o anfitrião desta fascinante experiência audiovisual - sim, porque isto foi claramente mais do que um simples concerto. Servindo-se de esplêndidas projecções abstractas que complementavam uma sonoridade deveras experimental, proporcionou uma bizarra mas inesquecível viagem por um universo onde o som e a imagem eram igualmente importantes, como se estivéssemos a assistir a um filme surrealista ao mesmo tempo que a banda sonora ia sendo interpretada à nossa frente.

O ambiente dentro da sala era de contemplação, tendo algum do público permanecido sentado no chão para melhor absorver as densas camadas de som que iam sendo construídas. Vários foram os mundos explorados pelo artista britânico - noise, ambient, post-industrial, música concreta, etc - e tudo soou cuidadosamente elaborado e, acima de tudo, entusiasmante.

Poucas são as actuações que se revelam verdadeiramente transcendentes, mas esta foi inegavelmente uma dessas raras e mágicas ocasiões. O nosso corpo podia estar no Rivoli, mas a nossa mente vagueava livremente. Quando tudo terminou, já sentíamos saudades do que tínhamos acabado de ver.