Reportagem Oathbreaker + Wife no Porto
2016 foi indiscutivelmente um ano marcante para a Amplificasom: não só concretizaram o sonho de ter Neurosis em Portugal, como possibilitaram a estreia no nosso país de alguns dos mais relevantes e excitantes nomes do actual panorama internacional, como Anna Von Hausswolff e Nothing. Um ano assim merecia, portanto, um final em grande, sendo que o regresso dos Oathbreaker foi uma excelente forma de encerrar um glorioso ciclo de concertos.
Antes da chegada dos cabeças de cartaz, WIFE, o projecto a solo de James Kelly dos Altar of Plagues, proporcionou um belo aquecimento. Kelly, que recentemente lançou “ Standard Nature” e que já tinha actuado neste formato há pouco mais de um ano no âmbito do Amplifest, ofereceu aos presentes uma dose sublime da sua electrónica experimental e emotiva, beneficiando igualmente do espaço intimista onde se encontrava para tornar a actuação ainda mais introspectiva. Enquanto esteve em palco, James Kelly proporcionou uma majestosa viagem que permitiu abstrairmo-nos da realidade que nos rodeava.
Depois de um curto intervalo, entraram em cena os muito aguardados Oathbreaker, que somente três meses após a sua última passagem por terras lusitanas, no Amplifest, conseguiram encher a sala, provando que são um dos mais respeitados e acarinhados nomes dentro do universo mais exploratório da música pesada. Na bagagem traziam a novidade “Rheia”, sendo que o alinhamento baseado maioritariamente em temas desse registo confirmou aquilo que já tínhamos observado em estúdio: o grupo evoluiu e adicionou – sobretudo a nível vocal - uma refrescante sensibilidade melódica a uma brutalidade sonora já por si eclética.
A actuação começou, tal como no disco, com as interpretações dos temas “ 10:56” e “ Second Son of R”, notando-se aqui um som pouco claro que, felizmente, melhorou significativamente à medida que o concerto foi avançando. Contudo, independentemente dos problemas técnicos iniciais, a prestação do quarteto – em palco um quinteto – foi constantemente marcada por uma espantosa intensidade emocional e por uma atmosfera tão desoladora quanto poética, tão violenta quanto delicada. Caro Tanghe, para além de carismática, é uma poderosa vocalista que canta com convicção, o que só contribuiu para que o concerto tenha tido ainda mais dinamismo. Os próprios temas de “ Rheia” soaram vigorosos, mostrando que os novos caminhos explorados tornaram a música dos Oathbreaker mais densa, complexa e, acima de tudo, negra - porque mesmo as passagens melódicas pintam cenários de angústia e raiva.
À medida que íamos escutando composições como “ Being Able to Feel Nothing” ou “Immortals” mergulhávamos cada vez mais num oceano de escuridão, pois os Oathbreaker são mestres na arte de arrancar emoções fortes do ouvinte. Terminando com “ Glimpse of the Unseen”, o único regresso ao passado nesta noite, assinaram uma prestação memorável e mostraram estar no período áureo da sua criatividade.
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sexta-feira, 22 novembro 2024