Reportagem Os Mutantes no Porto
Quem está familiarizado com Os Mutantes sabe que estamos perante uma banda histórica, orgulhosos sobreviventes da Tropicália dos anos 60 e uma referência incontornável para todos os amantes do psicadelismo. Tendo isso em conta, e apesar das diversas mudanças de formação que fizeram com que Sérgio Dias seja hoje o único elemento original, este regresso foi encarado com entusiasmo por representar uma oportunidade imperdível de ver em palco um nome que mudou para sempre a face do rock brasileiro; e o que nos foi oferecido foi precisamente uma bela e feliz viagem nostálgica.
É verdade que nem tudo foi perfeito: Sérgio Dias confessou, logo no inicio, estar com problemas de voz, e a ausência de Arnaldo Baptista e Rita Lee – figuras carismáticas e com grande impacto na história da banda – ainda é sentida. No entanto, bastava olhar para Sérgio Dias para percebermos que a chama ainda se mantém acesa, que a paixão ainda lá está.
Aliás, há qualquer coisa de mágico na actuação do vocalista/guitarrista: podemos vê-lo como um veterano que continua a querer manter vivo um legado invejável e que o faz por amor à camisola, mas também ficamos encantados com a boa interacção que tem com o público, apresentando-se como um tipo normal que está ali para proporcionar um agradável serão. Destacamos igualmente os restantes músicos, que se revelaram bastante competentes e capazes de criar o ambiente certo para uma noite de celebração.
O setlist, como já se esperava (e se desejava), contou com vários clássicos, como “Tecnicolor” (logo a abrir), “A Minha Menina”, “Panis et Circenses”, “Balada do Louco”, “Ando Meio Desligado” ou “Cabeludo Patriota” (intitulada, devido à censura, “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer”), mas também com temas recentes como “Time and Space”. A actuação, longa e com direito a dois encores, terminou com “El Justiciero”. O percurso do grupo já é longo, mas é evidente que o espírito permanece intacto... e ainda bem.
Antes, na primeira parte, O Gringo Sou Eu apresentou uma dinâmica mistura de hip-hop e electrónica, oferecendo um concerto extremamente divertido e enérgico – a certa altura até actuou no meio da plateia, ao mesmo tempo que tocava pandeireta. Uma verdadeira força da natureza que ainda vai dar muito, mas muito que falar.
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domingo, 24 novembro 2024