Reportagem Owen Pallett em Lisboa
Pouco passava das 22:30 quando Sean Nicholas Savage e a sua banda deixavam o palco da cave do Lux, depois de dada por encerrada uma actuação morna que à semelhança da música que se fez ouvir, não terá deixado o público particularmente impressionado. Com uma sonoridade desavergonhadamente nostálgica do pop-rock que rendia durante segunda metade da década de 70, Sean Nicholas cantava as suas letras sob ecos daquilo que os Destroyer seriam caso tentassem mimicar os agora extintos Girls.
Se por essa altura os espectadores não ultrapassariam as duas dezenas, a sala rapidamente se compôs até cerca de metade da lotação enquanto o próprio Owen Pallett montava o equipamento de palco que estaria a seu cargo esta noite: o violino, o painel de pedais de loops e um sintetizador. Outrora dono de um espectáculo desempenhado no singular, nesta noite o músico do Canadá fez-se acompanhar por um baterista e um baixista – que de resto contribuíram para uma versão mais intensa da base rítmica (e não só) das canções.
Iniciando a actuação com “Midnight Directives”, a faixa de abertura de Heartland (disco de 2010) inaugurava-se assim um alinhamento que não quis deixar nenhum dos álbuns da discografia de fora. Recordando a época em que assinava os seus trabalhos sob o nome de Final Fantasy, ouviram-se “Song Song Song” e “The Dream of Will and Regine”, que apesar de mais remotas, foram reconhecidas pelo público que prosseguia dançando no lugar ao som daquilo que acontecia em palco. Que não é pouco: o esquema utilizado repete-se canção após canção – Owen grava, no momento, as melodias mais recorrentes de cada canção sob a forma de loops que, controlados pelo painel de pedais, soam na ocasião respectiva. Uma tarefa que não é exactamente fácil, mas que é desempenhada pelo músico com toda a facilidade.
Das canções de In Conflict – o disco lançado nesta mesma noite – “The Passions” marcou a maior alteração de ritmo no folgo do concerto com uma performance melodramática, rica em calafrios: trata-se de uma faixa bastante densa pela ambiência grave do sintetizador, cimentada pelo violino emotivo que acompanha um conto sobre infidelidade. O calor regressou com “The Riverbed” que ao ser uma das canções mais espectaculares da discografia deste artista, ganha no palco uma dimensão sónica ainda mais poderosa que aquela que se ouve em disco. Foi por esta altura que Owen soube que tinha o público na mão e que a noite estava ganha.
O encore com “Song for Five and Six” e “Lewis Takes off his Shirt” entregaram-nos da melhor forma a conclusão que já esperávamos desta noite: Owen Pallet é um músico único, cuja forma de trabalhar as canções – quer em estúdio, quer em palco – revela uma personalidade despreocupada com categorizações ou metas de vendas, mas antes debruçada na criação de uma obra de sensibilidade clássica, delineada sob o molde de canção pop, barroca ou não.
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sábado, 20 dezembro 2014