Reportagem Ozzy Osbourne em Lisboa
Há cinquenta anos, Ozzy Osbourne entrou numa banda que deu passos decisivos na definição do heavy metal: os Black Sabbath. Só por isso todos os fãs de metal devem respeitar este músico, quer gostem ou não deste.
Quis o destino que só meio século depois e nos últimos cartuxos de uma carreira musical riquíssima, embora com altos e baixos, o cantor, letrista e compositor passasse por Portugal.
Uma Altice Arena bem composta, mas longe de estar esgotada recebeu o músico, numa noite que simultaneamente foi de apresentação e de despedida. Com os convidados muito especiais Judas Priest, uma das mais influentes bandas de metal de todos os tempos, esta prometia ser uma excelente noite.
Uns tamanhos colossos do metal chamados Judas Priest, nunca podiam ser considerados como uma mera banda de abertura. O célebre grupo de Rob Halford só serviu para abrilhantar uma noite memorável, com um alinhamento que revisitou alguns dos seus muitos clássicos.
Ainda assim não foi o melhor concerto da banda em Portugal, até porque com menos tempo para tocar do que noutras ocasiões, ficaram de fora temas emblemáticos como "Living After Midnight", "Victim of Changes", "Electric Eye", entre outros. Ainda assim, a banda teve mais do que uma hora para tocar a sua música e os temas da ótima novidade "Firepower", até soaram bem ao vivo.
Foi a todo o gás com o tema-título do novo álbum, que os Priest se apresentaram e seguiu-se a bem-recebida "Grinder". "Hello Lisbon. The Priest is Back", disse Halford após a interpretação desses dois temas. Seguiu-se mais um clássico, "Sinner", e por esta altura já se percebia a muita competência da nova dupla de guitarristas, Richie Faulkner e Andy Sneap com destaque para a ótima presença em palco do primeiro, que mostrou ser um verdadeiro rockstar, no bom sentido, sendo que este, de tempos a tempos, ia incentivando o público a participar na festa.
"The Ripper" apelou ao headbanging por parte dos fãs e foi muito aplaudido. Depois o Padre Judas tocou um dos melhores temas do novo álbum, "Lightning Strike", que também fez rolar cabeças. Na super orelhuda "Turbo Lover", Richie Faulkner solicitou ao público que batesse palmas e Rob Halford incentivou os espectadores a cantar, ao virar o microfone para os mesmos, tendo ambos sido bem-sucedidos nas suas intenções.
Halford ia demonstrando que velhos são os trapos, ao mostrar uma agradável forma aos sessenta e seis anos de idade, o que é de realçar.
"Rising From Ruins" não é tão imediata como as anteriores músicas do novo álbum que a banda tocou e não resultou tão bem ao vivo, mas a veloz e clássica "Freewheel Burning" compensou em seguida e até foi uma das melhores. Na obrigatória "You've Got Another Thing Comin'", Halford percorreu o palco na parte final e apontou o microfone para os espectadores de modo a que estes cantassem o refrão.
O carismático frontman da banda trouxe, como habitualmente, uma Harley Davidson até ao palco, para uma convicta interpretação de "Hell Bent For Leather", que contou com algum mosh por parte do público. O baterista Scott Travis ficou sozinho em palco e interrogou todos os presentes acerca de qual música queriam ouvir, ao que os fãs responderam com um sonoro, "Painkiller". Claro está que a música foi tocada pela banda, tendo sido esta uma das mais cantadas e que apresentou mais mosh por parte do público.
A banda saiu por momentos de palco e voltou, surpreendentemente, com Glenn Tipton em palco para interpretar os últimos dois temas, juntamente com os outros guitarristas. No final do clássico "Metal Gods" o público acabou todo de braços no ar. O público continuou ao rubro com "Breaking the Law", que terminou um concerto de nota elevada e que só peca por escasso.
Após algum tempo de espera começaram a ser mostradas imagens de Ozzy Osbourne, no ecrâ gigante atrás do palco. Ozzy entrou em palco e apelou a que todos ficassem loucos naquela noite.
O concerto começou com a banda a tocar "Bark At The Moon". O público cantou efusivamente esse tema e o icónico cantor começou logo a saltar e a bater palmas, incentivando as pessoas a participar nesta verdadeira festa. O teclista Adam Wakeman começou a tocar o princípio do grande clássico "Mr. Crowley" e os fãs gritaram efusivamente. Ozzy meteu os braços no ar e abanou-os para a esquerda e direita, um gesto que foi imitado por todos. Cedo se percebeu que o vocalista estava ali para dar tudo e revelou-se um autêntico enterteiner, o que até então tínhamos tido somente a oportunidade de verificar em vídeos. No final da música viu-se um público rendido à jovialidade e boa prestação de Ozzy Osbourne e a gritar pelo seu nome.
Seguiu-se o desfilar de clássicos com "I Don't Know" e reação do público foi enorme, mais uma vez. O que seria um concerto de Ozzy sem músicas dos Black Sabbath? Seria seguramente ótimo na mesma, mas não seria a mesma coisa. "Fairies Wear Boots" foi o primeiro de três temas da pioneira banda, todos pertencentes ao álbum "Paranoid", a ser tocada nesta noite. A interpretação desta música foi muito boa, o que só foi possível devido à grande capacidade dos músicos que acompanham Osbourne. O cantor aproveitou esse tema para refrescar a cabeça aos fãs mais esquecidos, com um balde de água. O lendário músico continuou a interagir com o púbico e pediu aos seus seguidores para gritarem "Yea", após o mesmo contar até 3, solicitação correspondida por todos.
"Suicide Solution" não podia faltar a esta celebração da carreira de Ozzy, sendo que o cantor decidiu a meio refrescar os fãs que se encontravam no lado direito e esquerdo do golden circle, com mais dois baldes de água. Pudemos escutar as famosas linhas de baixo de "No More Tears" e tivemos oportunidade de ouvir Zakk Wylde a solar como se não houvesse amanhã, nesse tema. Osbourne agradeceu pela boa reação dos fãs e foi bastante ovacionado.
"Road to Nowhere" era menos icónica do que outras músicas, mas soou bem ao vivo. Mesmo que fosse aborrecida Ozzy trataria de animar a malta. Seguiu-se a apresentação dos músicos por parte do cantor, com Zakk Wylde a ser enormemente aplaudido. Um dos grandes clássicos dos Black Sabbath e porque não, da música em geral, foi tocado em seguida. Falamos de "War Pigs", sendo que o público ficou ao rubro.
Estávamos sensivelmente a meio do concerto e Ozzy Osbourne teve direito ao seu merecido descanso, saiu de palco durante largos minutos e deixou desse modo, o também já lendário Zakk Wylde brilhar. O destemido músico saiu do seu habitat natural e percorreu todo o fosso a solar com a sua guitarra atrás das costas. Depois disso foi tocado um medley de temas da carreira a solo de Ozzy, ainda sem o cantor em palco. O que também não podia faltar num grande concerto de rock era o solo de bateria e Tommy Clufetos mostrou que é exímio nesse capítulo.
Com a estrela da noite de regresso ao palco, tivemos a oportunidade de assistir a uma extremamente orelhuda "I Don't Want to Change the World", com o público a voltar às cantorias. Ozzy disse que iam tocar mais uma música, mas afirmou que se os fãs ficassem loucos, tocariam mais. Seguiu-se "Shot in the Dark" e cumpriram o prometido, tocaram mais. "Crazy Train" levou os fãs ao rubro e Ozzy ajoelhou-se perante o público no final da música, mostrando gratidão pela excelente reação dos fãs.
O cantor saiu de palco por momentos e gritou "one more song", percebendo-se de imediato que Osborne e os seus músicos iriam regressar. Voltaram para tocar a famosa balada "Mama, I'm Coming Home", com direito a luzes de telemóveis, isqueiros e às vozes do público a cantarem todo tema em uníssono com a lenda viva da música, o Sr. John Michael Osbourne. O concerto terminou com uma das músicas que começou isto tudo, "Paranoid", o que foi o culminar de um dos melhores espetáculos que muitos de nós tivemos oportunidade de assistir.
Muito obrigado por tudo o que deste à música pesada!
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quarta-feira, 04 julho 2018